sábado, junho 27, 2009

Entre mentiras e confidencialidades

Quem me deixou, andar por ai distraído?
Quem me deixou, por via de jocosa atitude, deixar estas canetas espalhadas por ai?
Quem me deixou, se o engenho não me confunde, deixar por mãos alheias o que vai sendo feito?
Quem me deixou, se a virtude é fugaz, deixar esquecida toda a memória e oculto todo o mundo?
Quem me deixou, quem me permitiu essa perda?
Quem me deixou?
Quem me deixou assim perdido?
Quem me deixou, pintar essa tela, desenhar o rasgo do horizonte, pintar o mundo, colorir a vida para simplesmente me deixar perder essas canetas?
Quem me deixou ficar naquele lugar, sendo que fui o primeiro a chegar, hei-de ser também o ultimo a sair?
Quem me deixou consumir a lua e roubar toda a luz do mundo?
Quem me deixou fazer coisas inumanas?
Quem me deixou violar mil e uma coisas das quais jamais ouvi falar?
Quem me deixou então ser julgado?
Quem me deixou arrebatado?
Quem me deixou então…?
Quem me deixou?
Deixou-me a dúvida que se sublimou a estupidez…
Deixou-me a incapacidade de responder quando a resposta esta a frente de quem a teme…
Deixou-me em ridículo esta situação de que não fiz parte.
Deixou-me demente esta vontade de me rir em alta voz…
Esqueceu-se-me a verdadeira realidade…

domingo, junho 21, 2009

Somos senão reclusos desconhecidos de palavras, entregues a boémia, tunantes por natureza, seres de inconstância e inconstantemente descontentes, privados de uma realidade una sujeitos as falácias desta vida.
Quem mandará em nós?
Quem fará de nós algo que não somos e quem nos identificará como sendo senão quem realmente somos?
Não quem, mas o que somos nós?
Perdidos constantemente por linhas escritas, devorados por litros de tinta gastos…
Apresentamos o sorriso que nos foi dado talvez um pouco roubados, talvez um pouco injustiçados.
Que seremos nós?
Agita-se esta questão, revolta-se todavia o mundo, nada é senão o que aparenta não ser e assim, ainda que estranhamente composto, tudo é dúbio, revoltado e mal estruturado.
Sentimos esse ar mal sentido, ouvimos essa lenta valsa enquanto salto-mos ao som de algo mais pesado.
Escondemos algo misteriosamente exposto aos olhos de todos e por falta de vontade, negamos meio a meio mundo a dor que vai nos nossos olhos.
Cai-mos em revolta, jorram lágrimas de ira, lágrimas quentes, lágrimas que nos deixam mais tristes do que realmente quereríamos admitir.
Cai-mos no álcool, escravos dessa droga, estupidificamos, ficamos inertes, desligamos do mundo e deixamo-nos entregues ao irregular balancear do barco.
Agitamos o barco até que transbordamos e não nós conseguimos achar a deriva pois partimos inicialmente sem rumo e já estamos perdidos na tempestade.
Acordamos ensonados sem ter certeza se a realidade é se não um sonho de gigantes e por estranha filosofia questiona-mos o mundo como sendo ou não um sonho de colossos.
Cai-mos nessa sensação de incerteza e a terra parece sempre escapar dos nossos pés, para a apanhar não damos passos damos pulos unos de cada vez e com isso deixamos coisas meias coisas perdidas pelo peso do que fazemos coisas irracionalmente desfeitas por não termos planos concretos…
Encontramo-nos perdidos, que nós irá acontecer?
Encontramo-nos desfeitos e desafiados…
Quem nos mandou a nós perder?

Dedicado a Papagaia

Por falta de ti

Que te deixaria, pobre alma, fora da tua usual calma, da tua paz serena e imutável enfim, fora de ti mesma e mediante tal agravado estado de desconcerto e inconstância?
Que te deixaria, pobre espírito, fora de ti, perdido por um ermo, enlevado por sina e tristemente contemplado?
Não, não contarei atingir um estado de demência.
Não, não contarei atingir um estado de ilusão.
Que não me caiba a verdade no peito, que transborda de toda ela…
Que não se conheça toda a vida, que se desconheça quem vai compondo…
Não procuro a eternidade, sou neste momento vago, inconstante e nada se me apraz como uma verdade absoluta, nada é tudo e tudo é se não uma ilusão de inconstantes e fugazes motivos.
E tenho-te gravada, marcada aqui.
E não sei da tua inconstância e vou tentando compreender o teu ser…
Como te quero aqui e nem sei se alguma vez te terei de qualquer modo.
Reduzo-me.
Algo me consome o ser, sinto-me doente por motivos desconhecidos e desconheço qualquer cura milagrosa.
E quero-te aqui.
Por falta de ti, nem sei bem como passar, se és algo, és tudo e se és tudo, és como o ar.
Hoje poderia até haver lua redonda e cheia…
E mesmo assim o mundo continuaria coberto por esse pano de negro cetim.
Continuo a procura dessa resposta que me escapa por ilusão, envolta na magia desses momentos estranhos, envolta em tudo o que avaramente procuro.
Por um momento faria um dia.
Por um dia faria um ano.
Por um ano se necessário faria uma vida.
E por me perder faria o que pudesse se apenas tu me pudesses encontrar.
Assim, sem ti não procuro uma constante.
Sem ti não encontro um repouso que me acalme.
Sem ti nem me sinto a respirar.
E viver? Que mentira.
Sem ti, como pode uma mísera hora passar?

domingo, junho 14, 2009

Esta gente…

Mudo para ser inconstantemente constante, rapidamente imutável pela própria definição que me descreve, estranho e indiferente, por toda as coisas que me descrevem segundo um documento que nunca ninguém viu e que jamais alguém se atreveu a ler.
Luto contra essa sensação de vazio.
Procuro esse bem que me poderia encher, essa recôndita ordem, esse vácuo descontínuo repleto de todas as perguntas que em somas inconstantes vou rementendo para um infinito de existências que em nada se assemelha a esta vida que vou vivendo.
Escrevo segundo o que descrevo e reescrevo o que não poderia ser escrito sendo que poderia causar alguma confusão sobre toda a ordem, revolto-me a volta do inventado e deito por terra toda essa ordem, nada disto é mais se não um texto maçudo, nada mais nem menos que um delírio uma probabilidade de fuga um subterfúgio de inglória…
Calo-me, prostro-me sereno e ardiloso, escolho faze-lo assim, ninguém entenderá que o faça, mas por necessidade e por carecer de paciência assim o escolho fazer, escondendo essa realidade que tão habilmente deixaria ver e que a muitos seria um incomodo obrigando uma ou outra lágrima a verter.
Batalho face a ignorância um mal ainda maior, um escondido e recluso miasma que tão fortemente se abate sobre a alma das pessoas que a lama deitaria até a mais elevada e rica graça que alguma vez se pudesse aparecer.
Vejo esse ridículo, apercebo-me desse terrível defeito, olho e contemplo os bobos dessas cortes organizadas por reis tolos que se juntam entre oito muros, divididos por oito paredes, separados por oito quartos e reunidos em oito celas.
Rio-me.
Nada mais fará sentido e ainda assim, assim me deito livre de qualquer paradigmática duvida ainda que em constante reflexão.
Que se cale o corpo, que se deite em repouso, que nada me atormente este momento, desejo este bailado de palavras, essa inconstância de constantes movimentos e esse infinito retorno de coisas estranhas e ainda se for permitido a simplicidade do dia-a-dia e todo o desconcertas das horas escassas.
Rio-me por fim em desconcerto.
Atingiu-me finalmente todo o ridículo deste dia a dia…
Atingiu-me por fim a jocosidade e o ridículo desta gente…

sexta-feira, junho 05, 2009

Um canto ao teu canto (e revirar de toda a vida)

Deixa-me dormir a um canto do teu leito, colocado a um canto do teu quarto.
Pois desse canto te admirarei e te cantarei este triste canto.

Quanto mais penso, mais sério será o canto…
E quando não haja mais que este simples canto, nada mais sobrará que um pranto.

Deixa-me dormir, assim sossegado, bem perto do teu recanto, ao lado do teu olhar.
Queria ficar contigo e dizer-te o que penso e tudo para teu espanto.

Deixa-me cantar o meu triste pranto, não será nada de assombrar.
Será apenas a mesma mensagem de sente quando abro a boca e te canto.

Deixa-me assim dormir, perto de ti, nessa ilha calma, em teu canto predilecto, dele não me hei de afastar…
E se neste meu canto me engano, enganar-me-ei apenas a mim, a ti não será possível falar…

Deixa-me dormir com a tua sombra no meu olhar…
Deixa-me dormir com a tua alma e despertar com o teu sorriso, um espanto de maravilhar…

Este é o meu canto, que te canto a este canto, perdido do mundo, perto do teu canto, perto de ti, ao canto do teu canto, ao canto do teu olhar.

Deixa-me dormir…
Prometo não te vagar…

segunda-feira, junho 01, 2009

Perdido em pensamentos, desligado de tudo, incrivelmente silencioso, só por escolha, colocado decididamente a um canto, proscrito por decisão estranha, realmente desligado.

Ando por aí.

Nada de novo, nada de desconhecido, escrevendo coisas que não são senão capas contraditórias de verdades ilusórias.

Calmo, sereno, acordado, melancólico, desastradamente adormecido, incógnito mas acima de tudo calmo.

Sigo por aí.

Não descrevo nada, deixo tudo num termo vago, apago a minha voz, finjo uma expressão, ponho alguma coisa a descoberto, deixo alguém descobrir alguma coisa, dou um pouco, oculto um todo…

Olho para a imaginação, gostaria de ver os teus olhos, gostaria de ver a ti, cada parte de ti, cada lugar de ti, gostaria de te ter aqui.

Escondo-me por aí.

Beijo-te, escondo-me a seguir, abro os olhos, a imaginação engana-me assim.

Perco o sentido, deixei-me andar por aí, por esses recantos que tão bem conheço, por esses lugares infimamente escondidos onde só eu sei chegar.

Sinto-te aqui e sinto-me assim, estranhamente feliz.