quinta-feira, agosto 27, 2009

Estranha ausente

Estranha que tu és.
Desaparecida longe dos meus olhos.
Se te dirijo algo, ser-te-á dirigido assim.
Sem que ninguém o perceba, ninguém saberá para quem é.

Estranha que tu és...
E já a algum tempo que não te sinto perto.
Já a algum tempo que não te vislumbro...
Estranha que tu és, que te é prometido algo...

Assim, aqui aguardo...
Por ti e toda a tua peculiaridade...
Estranha que tu és, encontras-te longe mas presente...
Nem sei se o diga, será para causar confusões e assim...

Estranha como tu, que sinto a tua falta...
Quando voltarás, nem sei se o farás...
Como virás se alguma vez virás de todo...
Então aguardo e essa hora vai sendo tardia...

Esperarei para abraçar-te...
Esperarei para rever-te...
Não será se não para ti...
Tentarei o que puder por ti...

Estranha que tu és.
Falham-me as palavras...
Não saberei o que dizer...
Não será preciso dizer nada...

Mas quando vieres que venhas tu por ti...
Esperarei como sempre espero.
Só quererei e quero saber de ti...
Estranha como és...

Estranha como serás...
Estranha que és toda tu um enigma...
Gostaria então de ter-te por perto...
E assim enfim, abraçar-te.

terça-feira, agosto 25, 2009

Boa tarde, vá-se embora.

Hoje acordei desmedido, em sentimentos nulos, de pernas cruzadas, de bruços sobre a almofada, torto na cama, de cabeça para os pés da mesma, virado do avesso e estranhamente esticado e mesmo assim todo atado.
O lençol jazia por terra, não sei explicar, talvez por calor, o pijama encontrava-se suado, como detesto o Verão...
Sai, expreguicei-me, olhei para a cama, admirei a sua confusão, realmente nem interessa, deixei a estar, dirigi-me ao banho, meti-me debaixo do chuveiro, nem quis saber da temperatura da agua, deixei a mesma correr, sei apenas que o manipulo estava a meio.
Dirigi-me novamente ao quarto, encontra-se abafado, eternamente abafado, raios, como odeio o Verão, vesti-me sai com a família para almoçar, demasiadas pessoas a volta demasiado barulho a ser feito, quem me dera então saber, por que raio há sempre tanta gente neste lugar.
Retirei-me ao meu lugar de trabalho, mais pessoas a passar, sinto-me assim hoje, altamente anti-social.
Continuei por este local de trabalho, entre arranjar computadores e atender clientes, não tenho a minima vontade de os atender, não tenho a minima vontade de lhes falar, não tenho a minima vontade de estar aqui hoje e ainda assim sei que tenho que cá estar.
Debrucei-me sobre o teclado, soube que havia de sair alguma coisa, sai esta prosa estranha, este texto sem nexo e ainda assim acho-lhe o seu que de piada, não lhe acho o seu nexo mas acho-lhe o seu interesse.
Apercebi-me que hoje estou desligado, dai sentir-me assim, anti tudo.
As pessoas olham e simplesmente limitam-se a passar, a luz vai se apagando, que dia mais estranho para se passar.
As pessoas passam, ser-me-a punivel esta indiferença?
As pessoas passam, há pessoas que passam e me vem dizem olá e seguem indiferentes.
Se hoje me sinto indiferente, se hoje me acho estranho, se hoje estou aqui destoante e desligado, que coisa se desperta na minha mente?
Hoje sinto-me desligado, talvez assim seja melhor, não sentir realmente nada, que me ria exteriormente, hoje estou internamente e inteiramente cinzento.
Então as horas passam, passam as pessoas, de vários tamanhos, raças, feitios, aspectos e é tudo invariavelmente igual, essas coisas então confundem-se e ninguém parece ser senão uma copia deambulante de outra pessoa que passou já a sua frente.
Hoje nada reluz e isso é deveras impressionante de uma forma algo estranha e inconclusiva acabando então por não surtir qualquer impacto, trata-se assim de uma mini explosão de extrema indiferença... Impressionante!
Hoje os castelos de cartas não são derrubados pelo vento, hoje os castelos de pedra são feitos de cinzas,hoje as cinzas são dispersas e nada é como tudo e tudo se revolta por ser nada.
E é indiferente.
Hoje acordei, nem sei se me senti bem, falei com alguém ao telemóvel, nem quero saber para que, recordo-me que acordei ensonado, apeteceu-me mandar essa pessoa com quem falei para algum sitio funesto, contive-me e apeteceu-me dormir mais um bocado, estupidez sincera, que raio de pessoas se lembram de tais pensamentos, deixem-me dormir, o sol já nasceu e ninguém me deixa dormir.
Raios.
Desliguei-me, não sei quanto tempo me terei desligado, nem se talvez me tenha enganado, levando-me a pensar que me terei desligado, encontrando-me ainda completamente activo em completa consciência evitando apenas pensar no que se vai passando...
Deixo-me a mim próprio confuso, sei que evito pensar, sei que evito estabelecer um raciocínio completo pois não me interessa contemplar tal hipótese.
Desliguei-me e sinto algo nos olhos.
Já não tenho a certeza como estou.
Tenho no entanto a noção de me sentir cansado.
Talvez me tenha desligado.
Já perdi então a noção.
Já nem sei se interessa.
Boa tarde.
Venha o próximo cliente.
Passe a próxima pessoa.
Sinto-me inerte, um autómato de funções calculadas.
Boa tarde...
Venha a próxima situação, mais um sorriso exposto e forçado, mais um cliente meio desconfiado, mais uma situação exposta e bem explicada...
Boa tarde.
Deixem-me em paz, apetece-me dormir, não quero falar com ninguém.
Boa tarde e vão todos para o raio que vos parta.

domingo, agosto 23, 2009

Sussurros

Minha casa das arvores
De paredes cinzentas e pintada de verde.
Como são de pó os teus soalhos e como posso tocar o céu se tão só esticar os braços.
Minha triste casa.
Onde os sonhos são tudo e nada, onde as horas são passadas entre insectos e relva gelada.
Minha pequena casa.
Escondida num monte a beira mar, ilha de calmaria, fonesto descanço de gigantes.
Como gostaria de dormir entre as tuas paredes...
Como gostaria de prender-me a ti e largar estas asas cadentes.
Como ousaria fazer-te prisioneira da minha vontade...
Como te reconstruiria minha casa de telhado celestial?
Farei de ti algo novo?
Deixar-te-hei por ai a vaguear?
Minha pequena casa das arvores...
Como te poderei encontrar, novamente perdida...

terça-feira, agosto 18, 2009

PORRA

Dêem-me um dicionário!
Não de palavras de costumes!
Custa-me compreender estas vertentes distensas!
Custa-me entender estas coisas intensas!
Nada!
Nada é realmente dito, tudo o expresso é expresso de uma forma camuflada!
As coisas não são senão uma piada e nada é senão uma constante inconstante de inquebrável imutabilidade, de constante inconstância, de suprema estranheza e intrinsecamente ligada a um cerne de extrema confusão!
Repudia-se a frase anterior...
As verdades, se as há, são inconclusivas!
As mentiras, que as há, são estranhas, semi-originais, semi-irreais, semi-falácias, semi-contundentes...
Arrasta-se uma ideia.
Questiono o que fazer.
Não conheço nada que me responda.
Enfrento esse dilema.
Escondo-me!
Escondo-te!
Esconder-nos-hei!
Porra!
Desespero!
coisa sensivelmente estúpida e completamente sábia...
Como reprovar algo que simplesmente não posso negar?
Escondo-me.
Hás de me encontrar?
Quererei ser encontrado?
Porra.
Já a muito que isto deixou de fazer sentido.
Já é demasiado tempo a passar.
E revolto-me.
Sinto-me distintamente confuso.
Apelo então a normalidade do caos!
Preparo uma anarquia...
Nada há de ser subtil, nada há de ser indirecto.
Há de ser tudo na tua cara.
E no entanto nada há de ser inteligível.
Porra.
Magoei-me e nem sei com o que.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Assim

Como és tu que és Estranha…
Cabelos de fogo, olhos de luar, sorriso de estrelas, humor de mares, lábios de rubi, coisas incessantes que deixam o estranho inconstante e o inconstante estupefacto.
Como és tu que és assim?
Como poderei descrever isto, se és como és se não conheço como és, se te faço rir, como se sente todo o corpo?
Que se sente de facto cada vez que de estranha se enche essa mente, cada vez que estranha se mantém nesse olhar, cada vez que estranha te percorre essa corrente?
Como o poderei então explicar?
Como o irei dizer?
Como descrever algo que mal posso explicar, assim a distância de um abraço, assim a distância de um braço, assim a distância de esta visão?
Como o direi pois este espectáculo que de estranheza se enche, que de maravilha se fascina, que de assombro se deslumbra não consegue, não convence, não espia, não o diz, não sabe, não pergunta, não se cala e ata-se em livre volta, confuso e redondo, nada mais se não uma ilusão?
E como és tu que és Estranha?
Como me dirias e o que me dirias?
Assim se revolta esta estranha receita e assim se espantam os horrores de quem conhece, aproxima-se a serena idade e ninguém sabe como julgar o que se avizinha.
Há!
Pois não houvera maior enigma, que me revolte, que me deixe confuso, que seja um corrupio a minha volta…
Há de o ser e há de o ser sobre a noite de lua reflectida sobre o luar dos teus olhos com a fluente água das nascentes e com o encruzilhar deste fado ou se tiver que ser que se eleve a um estado pluralizado, pois de estranheza coisa, não sei se Estranha se Estranho se coisa alguma…
Confuso.
Assim, coisas estranhas, de estranheza feitas, ao bailado de tudo e nada, ao estranho passar do mundo, ao estranho revirar da vida, ao estranho compasso de espera…
Como ficará?
E finalmente, como és tu Estranha?

quarta-feira, agosto 05, 2009

Decidido

Hoje decidi aliciar-te os sentidos.
Decidi aquecer-te o coração.
Decidi mexer com a tua alma.
Decidi jogar contigo e não te negar a emoção.

Hoje decidi levantar-me.
Decidi acordar.
Decidi parar de sonhar.
Talvez tenha decidido parar de sonhar.

Hoje decidi beijar-te.
Decidi abraçar-te.
Decidi aquecer-te
Decidi talvez amar-te.

Hoje decidi sonhar acordado.
Decidi confundir-me.
Decidi não ter nexo.
Talvez tenha decidido até perder a razão.

Hoje decidi não fazer nada.
Decidi dormir mais um pouco.
Decidi fazer de tudo um pouco.
Talvez decida realmente o que tenha que fazer.

Hoje decidi que havia de me fazer irreal.
Decidi que havia de descobrir todas as mentiras.
Decidi que havia de por tudo a claras.
Talvez tenha decidido tudo e mesmo assim, não posso fazer nada.

terça-feira, agosto 04, 2009

Hoje

Hoje não me recordo se comi.
Falha-me essa imagem na mente.

Se comi, não me recordo realmente.
Se comi, não sei se foi carne ou peixe.
Se comi, não sei se foi sólido ou líquido.
Se comi, não me recordo sequer se mastiguei.

E vem-me esta fome, nem sei se a sinto ou se me engana a mente.
Se me sinto vazio ou apenas doente e dormente.

Se comi, que será que comi?
Se comi, será que realmente gostei?
Se comi, será que foi quente ou terá sido frio?
Se comi, será que hoje realmente comi?

Que raio é esta coisa?
Quem me faz pensar neste momento…

Se comi o que comi?
Que não me encheu.
Que me deixou assim em vazio?
Que não me fez sentir sequer consciente?

E revolto-me com este pensamento.
Aparentemente terei comido, recordo-me vagamente.

E repuxo-me.
Caio redondo, decadente.
E penso, em tom sombrio, taciturno e impaciente…
Grito alto, qual tortura demente:

“Quem me roubou essa refeição!?”
“Quem me prostrou tal duvida fervente!?”

Sem significado cambaleio.
Vivamente recordo-me de não ter consciência de ter comido.
Estranhamente sei que comi e sinto-me faminto!
Ocorre-me então pensar, pois não me resta qualquer verdade que me contente!

Será fome, o que este corpo sente?
Ou será apenas esta alma que se ressente…?