domingo, janeiro 23, 2011

Asas quebradas, braços vazios

Limpa as lágrimas deste rosto, qual veneno consomem-me a alma…
Pudesse, teria as tuas mãos no meu rosto, ainda que me queimasses toda a carne, preferiria arder por ti e contigo…
Recuso-me de mim, se de mim nem sei nem conheço, nem faço a mais pequena, ínfima ideia de como sou ou quem realmente sou.
Reclamo pelo teu toque, reclamo pelo teu olhar e por entre essas horas de sonhar, chorar poderia ser uma hipótese.
Não, tentarei não o fazer.
Se chorar, como poderei reclamar que não o faças tu quando te dói?
Calo-me pela noite e entre a amizade dos tempos, vou empinando a garrafa, o liquido flui e o tempo vai deixando marcas profundas em campos lavrados de recordações, más, boas e algumas vezes, ao que parece, épicas.
Em silêncio, escondo-me na minha concha, beijo uma recordação de ti.
Vou olhando para a porta do nada, sempre a espera de te ver entrar, à espera de um sinal de ti, o tempo passa e o teu gesto permanece como um suave mas distinto aroma no ar…
Abano todo, por dentro sinto-me ruir, por fora permaneço uma estátua desprovida de feições ou aparentes sentimentos, interiormente… Sou apenas uma fagulha no vento, sem sentido para tombar…
Procuro adormecer…
Questiono à loucura, seria demasiado querer o teu abraço?
Sinto-me e desejo-me a dormir, mas esse sono que não vem, revolvo-me nos meus lençóis, procuro por ti e espero esse abraço…
Deixo-me dormir e vêem esses sonhos estranhos, nada é o seu reflexo negativo e nada é um ponto de tudo e tudo se desfaz reconstruindo-se em vazio.
Flutuo então no vazio de mim mesmo, desejo o que não posso alcançar por mais que corra, será então o meu desejo desmedido? Maior que eu mesmo…?
Acordo.
Deixo-me dormir novamente, sinto-me ofegante com cada sonho, adormeço, acordo, adormeço, acordo…
Passo então essa noite mal dormida, desejo nem me levantar, nem me apetece, nem quero sair lá para fora, não quero de todo saber do mundo…
Arranco uma almofada e abraço-a, tento novamente dormir…
Que poderia fazer para te ter aqui, mais perto de mim do que neste meu peito ou nesta minha mente…?
Deito amarras ao mundo dos meus sonhos e apareces numa figura difusa, aproximo-me de ti e esfumas-te com o vento…
Deixo-me a sonhar, sentado numa falésia debruçada sobre o abismo do oceano…
O sol há-de se por…
E tu, será que poderei ter-te nestes cansados braços…?
Durmo, sonho, espero por ti…

sábado, janeiro 15, 2011

Uma luz, um caminho, um sentido, uma direcção


Diz-me como deixo de sentir, de pensar, de me sentir como merda, como me desligo de este mundo, como posso apagar todas estas coisas que me vão na cabeça, como me liberto de um sentido descendente em que todas as coisas não fazem sentido e em que tudo apenas aparece no meu caminho com o intuito de me magoar.
Diz-me, ilumina-me com um pouco de essa luz, guia-me, dá um sentido a este caminho perdido, porque se piso mais uma pedra, parece que piso uma mina, o meu caminho desfaz-se eu, eu acabo por cair novamente.
A música toca e esta música recorda-me de ti, uma e outra vez, uma e outra vez, ao toque de um tom infinito de loucura perco-me.
Indica-me um rumo, já me sinto a marear, se me perder novamente, já nem sei se me desejo encontrar, deixa-me perdido, se nem para ti me sirvo, como me hei-de servir para o restante mundo?
Então…
Dá me uma resposta.
Apetece-me arrancar esta pele, arranjar um disfarce para o mundo, que ninguém me conheça, estou farto de isto, nem sei que dizer…
Calo-me e grito…
Grito e ninguém me ouve.
Olho a volta e tudo parece tão cinzento e só.
Reescrevo.
E conto novamente.
Sinto-me triste e só.
Bela merda.