sexta-feira, março 28, 2008

Sou uma sombra…

Nua…

Despida de sentimentos…

Presa…

Pintada a cal numa parede negra…


Sou uma sombra…

Apenas um amontoado de sentimentos que nem sei explicar e de sensações que gostaria de negar…


Sou uma sombra…

Uma figura amorfa…

Um ser sem expressão…

Um vazio de tudo o que existe…

Total e terminal solidão…


Sou uma sombra…

Apenas algo que podes simplesmente pisar, um nada totalmente cheio de tudo e totalmente desprovido de fim ou sentido…


Sou uma sombra…

Uma expressão sem sentido…

Um riso seco e solitário…

Um olhar triste, velho e cansado…

Uma mentira desprovida de falsidade, uma honestidade dúbia e recôndita…


Sou uma sombra…

Apenas uma sombra, vulgar, dessas que por ai existem, dessas que há aos milhões, dessas que simplesmente podes ver com a mais mínima luz e sabes até existir na escuridão…

Sou uma sombra, uma triste e morta sombra…

E quem poderia amar uma sombra?

quarta-feira, março 19, 2008

Escreve-me um desenho, pinta-o de cores que eu não conheça, mostra-me aquela verdade que tão bem ocultas-te em pinceladas profundas de cores metafísicas desconhecidas e surreais.

Desenha-me palavras incógnitas, em belas paisagens em que possa respirar fundo, onde todo o mundo se desenhe com as vastas passagens de um pincel seguro e onde as cores sejam de um azul profundo.

Conta-me todas as verdades, diz-me todos os segredos, revela-me tudo o que me possas revelar, não procurarei ocultar-te nada e nada será o que não me possas perguntar.

Ri-te de mim, creio que já o fizeste antes, todos os sorrisos e todos os risos hás de os ter, mas nunca me peças que te conte algo que não queiras realmente saber, a realidade é um peso e sei sinceramente que tu a temes…

Chora, sofre, cai em pranto, deverei ligar?

Deverei ficar frio?

Deverei rir-me de ti?

Desfrutar do teu sofrimento?

Deverei lavar-me nas tuas lágrimas?

Deverei descrever-te como correm as tuas lágrimas pelo teu rosto para que possas compreender o que não sentes?

Deveria talvez rasgar-te um casaco de realidade?

Deveria talvez tecer-te uma camisa de certezas?

Deveria equacionar para ti toda a verdade, deixar-te com uma realidade que possas aceitar, dar-te tudo o que precisas para compreender que já nada é senão o que possas encontrar no fundo de uma garrafa…

Deixa-me contigo, contigo ai perdido, nesses bares por onde deambulas, nesses copos que tanto amas…

Uma filosofia de fundos perdidos, avistar a vida do fundo de uma garrafa, seja vodka, seja tinto, seja bagaço ou seja absinto…

Vem comigo, pelo menos uma vez aceita a minha mão, vamos tentar algo novo, agarrar no novo pincel, tentar de novo marcar a realidade, fazer algo distinto e sonoro, esquecer essa realidade nefasta, esbracejar por algo que ambos possamos entender, traçar novos traços criar uma nova pintura, pintar algo que ambos possamos entender, algo que ambos possamos amar ou odiar, algo que te traga para mim e que te afaste um pouco de ti, dessa parte que te prende, que te deixe entender-te e te permita libertares-te de ti mesma.

Que deverei dizer para que me possas entender?

Que desenho de palavras te deverei dizer?

Diz-me, a espera é algo eterno e a paciência não faz bem à alma…