sexta-feira, março 13, 2009

Abstracto

“Olá.”
Recomeça a frase, deixa-me a meias, dá-me voltas, faz-me rir, tira-me o sentido já que nada mais faz sentido, atira-me com uma almofada, faz-me rir, brinca comigo.
“Anda comigo por aí, vamos perder-nos onde tudo é conhecido, onde toda a vida foi passar onde todo o futuro esta morto, onde todo o passado se revolve nos segundos de uma segunda vida onde a mente deambula por campos elísios e onde absolutamente tudo passa invariavelmente por convergir numa teoria sem lógica, sem sentido e sem solução.”
Recomeça o pensamento, deixa o ilógico partir com o lógico, nada deve ser mais claro que as coisas que não queres entender, nada deve ser mais imperceptível que o humanamente concebível.
“Junta-te a mim, não saias deste sítio sem mim, não saias deste mundo sem me levares contigo, dorme comigo, a noite ainda é jovem e o amanhecer é uma promessa distante.”
Não te convenças do possível, convence o impossível de ti, não penses em agir mas não ajas sem pensar.
A vida opera-se, as roldanas vão se movendo no seu perpetuo ritual, anda é certo e ainda assim nada é tão certo como isto, nada.
E eu estou tão longe e tu tão impossivelmente perto.

“Olá.”
Recomecei a frase, reexaminei a conversa, imaginei novamente todas as possibilidades, ponderei em todas as respostas, em segundos nada passou de um momento e num momento nada de passou de nada e nada voltou a ser nada, uma invariável impossibilidade.
“Não me peças nada que não possas pedir, pede tudo mas pede o imaginável, pede o inconcebível, pede o fantástico.”
Um delírio. Nada mais que um delírio.

Hoje, comecei esta conversa com o infinito, hoje pensei nesta verdade sobre esta mentira nesta revolução de nada que os sentidos possam percepcionar.
Ando confuso dentro de mim, revoltado fora de mim, abandonado por completo e por fim atirado a berma da estrada desprovido de vida ou semi-morto.
Ainda hoje fiz tudo isto, dói-me a cabeça que não me deixa dormir, pesa-me o coração que não para de pensar.
Aprofundo-me na minha confusão, exponho-me ao sentido da minha abstracção.
Nada sou mais que uma figura abstracta.
Nada sou mais que um ser desconjuntado.

Olá.
Amo-te.
Adeus.

quarta-feira, março 11, 2009

Surreal.

Desconcerta-me, desgoverna-me, diz-me algo, deixa-me ao relento coberto com um manto de estrelas, deixa a lua ser a minha amante.
Deslumbra-me, toca-me os sentidos, deixa-me cego, reduz-me a zero, eleva-me ao um expoente máximo de loucura.
Desliga-me.
Nada, simplesmente nada, as coisas ditas são tidas como loucuras de uma vida, irracionalidades de um momento, palavras vazias ecos de uma sonoridade inconstante, ruídos residuais, pequenos vírus que se arrastam pelo ar, aos quais todos nós somos invulneráveis mas que ocasionalmente nos deitam abaixo.
Fecha os olhos.
Esquece essas mentiras.
Não me sorrias, esse sol é demasiado amarelo e o mundo já o conhece bem demais.
Fecha os olhos.
E escuta.
Escuta como nada é transmutado em tudo e como tudo é reduzido a nada.
Fecha os olhos.
Torna-te inconstante para poderes ser constante.
Liberta-te, liberta-me, dá-me um ar de liberdade, deixa-me respirar como se nunca o tivesse feito, deixa-me beber a vida por uma palhinha, deixa a vida passar, nada é tão imutável como ela é volúvel e nada é tão certo e seguro como o seu fim.
Aspira a um fim, deixa os intermédios, deixa os meios, deixa as coisas que tens por fazer, por favor, termina algo.
Dança.
Escuta essa musica mundana, age qual louca.
Dança.
Dedica-te a perdição e sente-te segura, rodopia sobre ti própria, se senão uma incerteza certa e dança, dança…
Aceita algo novo.
Recusa o que te é dado.
Toma uma decisão.
O vento agita-se.
As folhas vão se espalhando pelo chão.
Cria-se um novo rio de pensamento e eu vou me perdendo pelos seus canais.
Perco-me pelo rumo, perco-me pelo tempo.

Ter-me-ei perdido por esquecimento?

quinta-feira, março 05, 2009

Somente em veemência

Moro fora de mim.

Todo um universo delineado em linhas verticais e tudo escrito numa volta horizontal numa tinta que escorre por essas linhas como sangue.

Sinto-me cadente, em plena imensidão de agua seguida pelo mergulho e nada se conecta nada se liga ao deslindrar deste movimento.

Moro perdido, sempre fora de mim.
A realidade que se vai distorcendo, as coisas que se vão cosendo á veloz tecelagem de seres imaginarios e nada recai sobre tudo e tudo se revolta em nada.

Sinto-me deprimente, em pleno sonolência em suturação de sentido em romper de moralidades.

Moro fora de tudo, omnisciente fora de mim.
Prego essa alma ao alto, deixo que a sua sombra assombre a noite, deixo que o seu temor se torne eterno e que tudo se resuma a um murmurio assustador.

Sinto-me ausente, desconheço-me em sentido, recaio sobre essa areia, revolve-se esse sangue e nada é tão aparente como a aparência.

Gostava de morar perto de ti, ao centro de ti, ao cardeal de algo para ti.

Recairia sobre mim essa vontade, resumiria esse sonho, reuniria mil coisas que estão infimamente perdidas e desenharia a mil tons tudo o que te iria contanto.

Sinto-me desligado, triste e só.

quarta-feira, março 04, 2009

Dança comigo

Receita-me um despreocupar generalizado.
Como anestesia sentimental.

Não quero saber ou sentir.
Não quero saber o que pode correr mal.

Indica-me um princípio para todos os fins.
Um sinal que nada será certo e uma incerteza de que tudo correrá mal.

Alarga-me uma vista tacanha.
Esta humana parece servir-me mal.

Faz-me sentir bem.
Dá-me uma resposta concreta que mesmo assim não saberei se me apraz.

Afasta-me este medo.
Um terror omitido e negado, destituído de sanidade.

Desliga-me o dom de me preocupar.
Torna-me qual robô, frio, estático, vertical.

Diz-me como não viver em verdades meias.
Dá-me a mentira completa. Pelo menos essa sei que é real.

Não me iludas.
Faz essa magia, cega-me os olhos, deixa-me iludido, tanto faz.

Desfaz-me a sinceridade.
Torna-me desonesto, intriguista, cruel, enfim, malvado e desumano.

Ou não faças nada.

Mas ama-me.
De tudo o resto, seria o mais importante.