segunda-feira, setembro 29, 2008

Segredos ilusões, palavras secretas e todas as coisas que te ficam ocultas…

Vou-me reconstruindo, laureado insano, de mim, rodeado de mim, triste de mim, deitado no chão abandonado…

Erguendo-me, choro…

Rodeio-me de mim, desconheço-me a mim, reinvento-me, desconheço o resultado desta reinvenção, pareço um trabalho em constante mudança, em constante indecisão, uma muralha que se ergue de volta desta pequena casa de dúvidas que se vão dissipando.

Desligo-me de tudo, não quero reconhecer nada, escondo-me dentro de mim, pretendo que nada exista, excluo tudo, e recrio o que vier as minhas mãos vazias…

Caio em mim, acordo, não que durma mas acordo, os meus olhos abrem-se para se aperceber de algo que vai despertando conforme o dia avança e conforma a vida recua…

E sim, a vida recua de nós, vai-nos deixando a cada momento, vamos passando por ela como quem passa pela rua, desatento do mundo, desconectado, inerte de si mesmo, um autómato rectilíneo e insensato.

E acordo, abro os olhos que sempre estiveram abertos, abro portas que quis fechar e por elas espreito com todo o horror e pavor que a mente possa conceber, pois para lá delas, nada reconheço em que me possa apoiar…

A mente teme, o coração treme, o instinto impele a loucura e a razão apela a vontade do conhecimento…

Para lá dessas portas, nada se desenha, tudo em branco e cada coisa se vai desenhando ao passo desgovernado de um sonhador desconcertado.

Para lá dessas portas encontro-te a ti, as memórias de ti, sei que as tenho, bem guardadas, para nas horas negras e tristes ir pensando em ti…

Avanço por essas portas, és agora uma presença guardada neste coração em fragmentos, unido por fios de lembranças, preso por alguns sentimentos doces e por vezes amargos…

Este coração que se vai enfim recompondo…

Continuas aqui…

E a memória de ti, o sentimento por ti, puxa-me, faz-me avançar, não olho para ti com olhos tristes, não o voltarei a fazer jamais…

Posso dizer-te que gosto de ti e hei de to dizer, quando te veja, quando souber de ti…

Guardei tempo demais isto para mim, avanço decidido por essa porta, para trás deixo muita dor que me acompanhava ainda que alguma ainda me siga, outra grande parte ficou ali e a ela não pretendo retornar…

Fecham-se então essas portas, não trancadas mas fechadas nada pode ser eternamente separado ou esquecido e o único modo de seguir é ir dando um passo atrás do outro…

Já o disse, repito e reafirmo, segues comigo, guardada no meu coração a mais doce memória que posso conceber, guardada aqui dentro de forma a aquecer-me a alma sempre que preciso lembra-me de algo bom…

Passei por tanto, vivi tanto, perdi tanto, por vezes parece que ganhei tão pouco e não posso assegurar que tenha ganho muito mas esse pouco que ganhei…

Agradeço-o e fica guardado nas boas memórias, nos bons momentos, junto a toda essa estranha magia que se vai fazendo, fica guardado bem perto de ti…

quinta-feira, setembro 11, 2008

Não acredito no sonho.

Não acredito na esperança
Não acredito em nada que me possa deixar mal

Talvez tenha acreditado
Talvez me tenha dedicado a sonhar

Uma vez deitei-me a esperança
Uma sonhei, permiti-te sonhar

Feri-me do mundo
Feri-me dos sonhos

Banhei-me nas mentiras do mundo
Banhei-me em repugna e enganos

Deixe-me esconder da vista
Deixe-me esconder da vida

Amei quem amei
Amei que perdi

Amo quem amo
Amo que talvez não devesse amar

Contrapõe-se a necessidade de pensar
Contrapõe-se a necessidade de amar…

Desapareci…
Desapareci mas permiti-te voltar…

Acabei com a ilusão…
Acabei com a vontade de sonhar…

Morri por dentro…
Morri por uma vontade de lutar…

Arrasto-me agora por ruas vazias
Arrasto-me estúpido, bêbado, sóbrio…

Sozinho por ai…
Sozinho aqui dentro, por amar…

terça-feira, setembro 09, 2008

Confortavelmente em perdição

Tudo, nada, realidades que se vão adensando, que se vão condensando, que se vão escondendo em cada rodar de cada jogada feita…
Não sei…
Surge-me a vontade de te ver e surge-me a vontade de fugir de ti, organizo-me desorganizadamente de forma espontaneamente errática, desfaço-me em figuras que desconheço, visto esse fato de perfeito tunante e assim dedico-me a vadiar…
Quero fugir de ti, quero te perto de mim, perco-me contigo por perto, perco-te cada vez que não te tenho aqui…
Solto um grito a desgarrada, surpreendo mil e uma mentes, faço algo que só a ti concerne, que só a ti faz sorrir, vou escondendo, vou contando, vou ocultando aquilo que deveria ir dizendo e ainda assim não há como dizer as coisas sem mostrar demasiado e ao mostrar demasiado tenho que voltar tudo atrás, tenho que reinventar tudo o que vou fazendo, tenho que fazer o que faço mas sem que pareça forçado, tenho que ser mais do que sou sem que seja que pareça algo demasiado irreal, demasiado metido a força, algo que possas tomar e que acredites mesmo que não seja a coisa mais sincera que possa realmente ser dita…
E então escondo-me, sirvo-te um prato daquilo que me parece que tenhas que saber, faço esse trocadilho, faço-me desaparecer, hoje não estou para ninguém, estou onde toda a gente sabe que estou e mesmo assim ninguém sabe como me encontrar…
Espero ver-te, espero contar-te tudo, mas intimido-me a mim, mesmo, escondo-me de novo…
E então olho-te e sorrio, sorrio sem que saibas que choro, choro sem que saibas o que se passa, dou-te uma figura, uma imagem, não deixo que vejas o que escondo, ainda que por vezes tenho muita certeza que o sabes…
Continua então o jogo, os olhares trocados, as piadas, os mimos…
Todas essas coisas…
Quero afastar-me de ti, quero ter-te aqui bem perto, quero saber o que quero sem ter que perguntar…
Recupero-me neste meu precipício de solidão, vou escavando este meu abismo em forma de coração, vou amando mas vou também erguendo paredes bem altas para me proteger do que vier, preparo-me para tudo, preparo-me para a dor que venha, preparo-me para o desconhecido, o bom, o mau e o conhecido…
Afasto-me de mim, para me afastar de ti, para te conhecer ainda mais, para te esquecer mais facilmente, para poder afastar-me de tudo e voltar a algo que conheço bem e que nunca me deixa…
Aguarda-me a solidão…
Aguarda-me esse velho conforto…