sábado, março 26, 2011

Há, sem haver.

Não posso escrever, sinto a caneta pesada, fora de mim mesmo me sinto e sem rumo fixo me conheço, não me conheço em mim próprio não conheço sensação de mim, sinto-me puxar pelo meu interior, forçadamente e estupidamente com sensação de arrancar as minhas tripas, desconheço-me neste sentido e por não poder escrever, não por não querer mas por não ter para quem escrever, escrevo a pena solta a fogo posto a bandeira despregada de sentimentos e sentidos negados aponto-me a mim como culpado por sentir sem existir talvez por sentidos ou coisa alguma em altura sempre suspeita, senhor de nada e por tudo dito não posso escrever, não sei então porque escrevo!
Não posso escrever, escrever é quase um dever, um escape de mim para nem sei e neste momento nem sei para quem escrevo e ainda assim atinjo esse objectivo? Escrevo assim despregado e doem-me as mãos, os braços, o estômago e a cabeça não escrevo por mim, não sei porque escrevo e se escrevo de todo ou bato com força no teclado, carrego com toda a força na caneta, desenho as letras de este texto quase a rasgar o papel cravo como tatuagem estas letras na terra e não escrevo por nada, não escrevo por ninguém escrevo por ira, euforia, loucura!
Não posso escrever… Não existe movimento de fluxo, não existe movimento perfeito… Existe em contrariedade de movimento do meu sentimento perda de razão, grito, grito, grito e agarro-me então as palavras que vomito em agonia e assim, nem sei porque escrevo não é em mim, não é por mim, não nesta pessoa que desconheço, convenço-me então que a mentira foi negada, coisa alguma conheço, merda, merda, merda e mais merda!
Não posso escrever, grito do meu interior e rio a bandeira deslavada, loucura perdida o meu objectivo nem cumprido é não há rumo, não há maré, há perda? Nem isso sei, porra! Que não existe nenhum motivo, não existe qualquer razão, sem sentido aparente e então… Restaria rogar a uma entidade superior, chamemos-lhe Deus mas Nietzsche disse “Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser céptico.”, então nem terei um Deus para acreditar porque neste momento nem me acho com fé, nem me acho de todo!
Não posso escrever, não que não o queira, não que não o mereça, não que não saiba como o fazer, não que não o necessite, não que não seja algo que me pareça natural, simplesmente não me é merecido não a mim, não a pessoa que sou agora, não a pessoa que pareço ser, não é desta pessoa, não tem destino, quem é de facto esta pessoa? Quem?!
Não posso escrever.
Esta escrita não me pertence.

quinta-feira, março 17, 2011

Onde, por onde? Por nada…

Retira-me do meu lugar, meu futuro passado escondido e diz-me por força como me hei-de encontrar, escondido em sossego, oculto a vista do mundo, meu lugar sereno e simplesmente longe do teu olhar.
Orienta-me. Afoguei-me nesta sangria, escoei-me de vinho e comi fruta envenenada tão só por opção negada, deixei-me beber e fui bebendo.
Ao ocultar a opção não escolhi a resposta acertada, fui enchendo esse e esvaziando a vida, nem sei se por escolha ou decisão informada…
Esqueci-me de ser feliz, não creio recordar tal desígnio, talvez opção velada por força de normas.
Obriguei-me a negar por vida perdida, dediquei-me a expirar…
Ensina-me algo, dá-me um sopro de vida.
Em veneno puro resido, o meu ar é pó e não conheço sol.
Acorda-me! Nem me sei a dormir, por força necessária de um sopro de existência, rogo um beijo teu! Dá-me vida…
Ou nega-me.
Deixa-me solto por ai, ignorado por ti, esquecido e perdido de ti…
E então sofro.
E então choro.
E então torturo-me.
Desligo-me por força de ser, desligo-me do mundo, pego e fujo.
Ninguém me há-de ver.
E esqueço-me por um momento, perco-me perdido em mim.
Esqueço-te mas permaneces tatuada em mim.
Ensina-me a viver mas nem existes.
Ensina-me a ser feliz mas nem respiras…
Não me conheço. Nem nunca te conheci…

sexta-feira, março 11, 2011

Inocente

 Indescritível melhoria, sorrio, ao ver esse dia!
Sorrio, sorrio, sorrio…

Ao beijar os teus lábios, sentida alegria!
Sorrio, sorrio, sorrio!

Teus lábios, qual rubis, perdição de meus dias!
Sorrio, sorrio, sorrio.

Passo a mão, pelo teu cabelo e perco-me nele.
Sorrio, sorrio, sorrio…

Pouso o outro braço, a volta da tua cintura…
Sorrio, sorrio, sorrio.

Puxo-te, aproximo-te de mim…
Sorrio, sorrio, sorrio…

Como-me sinto então, em pleno estado de euforia!
Sorrio, sorrio, sorrio!

E então acordo!
Tristeza, solidão, desespero…

Penso então em ti, lembro-me de este sonho…
Então sorrio, sorrio, sorrio…