terça-feira, março 22, 2016

Enquanto Chove Lá Fora

Suave e calmo, o passar das horas, em que o discernimento é tapado, em descuido a emoção, em que o sonho é um momento, em que nos perdemos, pouco a pouco, no esgar das frestas que deixam passar um pouco de luz em noite clara.
Calmo, o silêncio que se faz sentir, nesse conforto de horas em claro, que passadas em emoção, reflectem mil pinturas imaginárias, levadas pela imaginação corrida, num movimento do desenho, em que o pincel nem quis saber de cor ou traço, forma directa ou expressão.
Enrolar no calor do cobertor, deixar passar a noite em claro, nem saber se é verdade ou ilusão, simplesmente ter olhos semi-cerrados ver mais que uma visão.
Embalado no repouso do leito, sem ter um destino mal feito, tão só repousar nesse colchão.
Descrito de que forma se ponha, cria-se uma imagem de calma, horas tidas em descanso, celebrado sonho perdido, nem perdido se possa dizer, voar como se pode, sem ter fé em saber voar, acordar na sensação de cair, simplesmente, saber sonhar.
Enquanto espero por um dia, a noite sabe-me bem, sentir-me neste sítio, não será talvez o espaço desejado, fechar os olhos, afastar de tudo, levar para onde a mente me deixe, esquecer por momentos o meu universo, sair e partir, não existe mais remédio nem motivo que me pare, estrela ou constelação.
Perguntar em sonhos, pedir clarificação, testamento a tudo o que veja, não deixar diário de bordo, ferramenta ou recordação.
Olhar o vazio, sentir a luz que passa, a expressão que não muda, deixar o momento passado, envolvido com um futuro que não passa, por um testemunho deixado, sem que suceda em cadência de cedências, esculpir o passado, largar pó no presente e fugir com o futuro, sem que ele seja tido, secretamente negado, não permitido por ventura, apenas uma corrente de loucura, como se fosse de facto tomado, nem sempre conhecido, escrito e partido, quem se propôs a contá-lo, nem nas cartas o viu claro, corre assim, letra solta, na ponta de essa pena, nem sabe como lhe vai, nem como lhe foi.
E pedir permisso porquê? Esperar apenas perdão directo? Nem saber que fazer quanto mais quando, como e onde…
Expressar um sonho rápido, que nos aproxima da loucura, tão ó tão louco como demente, resta assim um sub-consciente, aprisionado de existência, que em cada dia de violência, vai perdendo o tino, obra rara e expressão larga, sem tez que se sustenha, sustenido em comprimento, estica e estiva o pensamento, certo de esperar tortura, de abrir o olho e ver mais um dia, reticência e texto, rotina e demora, mil e uma cavalgaduras, num auto-burro que o leve, daqui para o inferno, sem que o transporte realmente, sem tocar solo, voa baixo.
Acordar, só e demente? Dormir, só e crente?
Nem, sei é suave transição que espera, rasga pela rua torta e suja, nem quer saber se bate a porta, leva na mão um pouco de magia, um encanto tunante, certo espírito e sabedoria, olhos de sonhador, distante, como quem torce melancolia.
Deitar e dormir. Hora torta. 

segunda-feira, março 21, 2016

Papilio

Como vai a minha necessidade de falar, longe do que as minhas palavras conseguem transmitir
Como vai a minha necessidade de te dizer, longe daquilo que posso revelar, todas as coisas que poderia eventualmente ter para contar.
Como vai, este pensamento que carrego, nisto que me causa um convalescência, necessidade absoluta de dormir mas acima de tudo, necessidade absoluta de te poder dizer tudo e mais alguma coisa.
Como vai a minha defesa, necessidade que tenho de erguer muralhas, de responder de forma confortável, de estar a defensiva, de dizer aquilo que parece lógico, fácil e simples.
Como vai esta cabeça tonta, que não é capaz de exprimir um simples dizer, não, não é capaz de se expor certamente, por medo a cair.
Como vai, nessa incerteza, o que posso dizer, sem que seja tomado como uma decisão incerta, um extremo que posso expor, uma contemplação ou um contentamento?
Como vai, dentro do que posso expor, o que posso falar, dirigir, a quem deva ser dirigido, o direito de decisão, uma nota que devo por, ou por mim, expor, sem que fosse preciso, é estúpido de facto mas nisto, sinto-me verdadeiramente confuso e convoluto, estúpido e completamente desorientado.
Como vai o meu pensamento?
Como vai o que devo ou deveria dizer, possa em passado prosar e declamar ao vento solto, o que posso ou não dizer e então toda esta confusão poderia ser levantada e sacrilégio que possa tomar, medo, temor profundo, de danificar algo que não seria, nem será de meu direito danificar.
Como vai o destino? Como vai o direito ou o dever de decidir? Como vai a escolha? Como vai o poder dizer, o saber dizer, correctamente, sentir e devolver?
Como vai essa incerteza de saber, essa incerteza de pensar, essa incerteza de sentir, essa incerteza de agir, essa incerteza de falar, de repetir, vezes e vezes sem conta o que deveria ter sido dito e de possibilitar ou permitir o que pode ou não existir?
Como vai a maneira como me forço a entender, toda e qualquer volta, toda e qualquer mudança.
Como vai o pensamento que me levar a analisar profundamente todo e qualquer cenário?
Como a boca, que deveria ter sabido falar, que deveria ter tido ouvidos, olhos, cabeça e coração?
Como vai quem pensa, pensar naquilo que deveria dizer correctamente?
Como vai organizar aquilo que pensa, para exprimir directamente o que quer?
Como vai quem pergunta, esperar uma resposta clara, se o que escuta não sabe bem o que pensar ou falar? Como vai a espera? Como vai a alma?
Como vai, falar quem fala, num pedido de desculpas, explicar tudo o que deveria ser fácil de dizer?
Como vai perdoar que perguntou?
Será que há volta?