Inconsequente
O cheiro de velas permeia o ar.
Velas que ardem e velas expiradas, cujo fumo corre, solto pelo ar.
Sobre a mesa, um copo de vinho meio consumido, cartas soltas e uma caneta que nunca voltará a escrever.
A perspectiva muda, com a leitura do aparente, segredos que mantemos a distância de uma mão, não sei se minha ou de quem se aproxima.
Corre o tempo, a leitura que estava na mesa, entrou em pausa.
Nem tempo existe para navegar.
Nem momento que nos possa vagar.
O que aconteceu?
Como trazemos essas cartas, demasiado perto, demasiado coladas ao coração?
Talvez por medo, talvez por orgulho.
Como podemos então saber?
Voltamos as folhas, lidamos com as cartas, com a informação velada, com o conhecimento, arcano.
Puxar a cadeira, deixar de deambular, olhar para a mesa, puxar o copo, aproximar dos lábios, tomar mais um golo, reconhecer a beleza expressa, num movimento que nos ilude.
O aproximar, sorver, saborear…
Estender uma mão, torna-se um esforço desmedido, qual alcançar um peso sem fim, que não consigo necessariamente elevar.
Mas estende-se a mão, levanta-se a carta, toma-se a decisão, pagã.
Procuramos esse conhecimento profundo, oriundo do desconhecido.
Avaliamos o que sabemos, como podemos confiar em nós, como podemos soltar o nosso mais profundo ser…
A junção do irreal ao real, do tangível ao intangível.
Ver com olhos que só querem ver quando estão abertos ou se deixam abrir.
Permite-me então a confusão.
Não te conheço um princípio ou um fim.
Ainda assim, olha para essas cartas, para esse sem fim de informação, para quem a quer ver e ler.
Terminado o copo, o cheiro a velas continua no ar.
Não se trata de um cheiro novo, velho, original ou recorrente.
De entre estar em pé, toma assento.
Olha para as cartas.
Desligar do mundo.
Que resposta esperamos?
Que informação esperas ter?
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