domingo, janeiro 18, 2015

Dicotomia de Sonho

Acordar por acordar, nem sei se hei-de estar acordado.
Nem por hora de penumbra, mal tida em hora de loucura, a hora passa, o sonho volve o sono não vem, a hora morre.
Acordar, nem sei se acordei, de facto não faz a falta, revolto num canto, coberto para a vida, acordar, acordado, adormecido certamente.
Faço jus a hora, não é realmente um desafio, permanecer assim acordado, nem distante nem presente, nem sabendo bem enfim…
Acordar, dita maleita, preferiria continuar adormecido, por desenho de fisionomia molesta e economia funesta, vem o acordar o labutar benigno.
Acordar para a loucura, deixar-se desperta nela, não fazer do movimento um novelo, desenhar o acordar, presa mão em silêncio, cruel se tem assim ao clamor.
Acordar em vaga hora, sentido de nada por tudo, ora olhar para o vazio, sentir as sombras do escuro.
Acordar não toma a medida, nem sei se acordado é um acordo mas na certeza do incerto, sempre longe, puro estropio.
Acordar de meia maleita, sem seguro de vida, acordo adormece o homem e segue adormecido o governante.
Acordado, sempre é o caminho, não é por acordar ao raiar da lua, adormecer ao quebrar do dia e sonhar consoante a dissonância, não é de facto via ou vida.
Acordar, estar desperto, passar a vida qual morto vivo, fazer a função ditada, sem espaço para erro ou mora vira.
Acordar, ancorar a vida, não é mais a regalia, se não há valor que seja pago, vazios bolsos, cabeças cheias, mãos vazias e feridas frias.
Acordar, não deixa ao sonhador o sonho, o sonho anda vazio, na verdade é uma ilusão, o sol brilha, o corpo anda, a casca move mas vai vazia.
Adormecer treme o semblante ora por meia vida, clama ao longe um sonho distante, olhos abertos, abraços ternos, comover assim a criança eterna.
Acordar, adormecer, sonhar, talvez voar, não é uma realidade que exista, salvo de cabeças loucas, pessoas tranquilas.
Acordar então, passa por ser um terror, quando na verdade, nunca somos tranquilos.
Acordados, vivemos presos, seguindo o rasto do acabamento e fazemos esse trajecto diário, não creio palavras para descrição conhecida.
Adormecer, acordar…
Vida cinzenta, vazia.
Acordar, adormecer…
Sonhar com nada, alma fria.

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