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A mostrar mensagens de janeiro, 2015

Estige

Enrolou um cigarro, parecia distante, pensativa, toda ela fachada, intelectual, meio tomada ao café, debruçada sobre um jornal. Simplesmente verdadeira. Acendeu o cigarro, certa de si, altiva. Por meio de um café, acendeu um cigarro, puxou fogo, fez fumo em garganta, toda ela passava, por entre as discretas passagens, sem que nada nem ninguém se apercebe-se, tombos e voltas, nada de verdade. Figura serena, não descrita em parte alguma. Caminhou, o seu vestido esvoaçava, qual chuva miúda, enrolada ao vento, tal era assim solta mas sincera ao olho, deslumbrante num caminhar. Passava pela gente, poderia não querer, ficava marcada no olhar, toda ela, tolda atenção que despreza, na verdade, não é a sua obsessão. Sai pela rua, vai valente, nela só solta ao vento, velada do que traz na alma é única observante, de um caminhar descompassado. Não traz folha solta, olhar seguro, peito ardente, não é por verdade/amargura, objecto de mente demente. Acendeu um cigarro, avançou na sua leitura. Uma p...

Ao sinal, desafio e pena rasgada

Ao sinal que trago, carrego essa emoção, num quarto pequeno rasgado, estas paredes são de ilusão. Na verdade, é um sufoco, nem por clamor, ardor ou explicação. Hora, ora, venha a sedução, a noite que encanta, trás em si recordação… Lince, tigre pingado, figura felina que praga o coração, não o que te mexe, na verdade é um apelo à obrigação. A recordação, parte então desse desejo, a vontade é de partir, a guerra se foi tida, foi por batalha em que derrotaste tudo o que poderiam deitar, engenhos de mundos aparte, apenas por uma noite, mais ou menos ilusão. A teia de areia, passa então o mundo e as aranhas fazem gestos na areia, não sei, se me entendes nesse nexo, mas estende-me um abraço, não faz frio mas parece. Desafio é o que parece, na verdade é perdido por não ser tomado e não faz um abono, ode a nada, apela a uma noite tranquila e um sonho passageiro, crer em nada, desenhar e desdenhar o mundo, se não é credo é crença estúpida, abismal ignorância. E não eu não sei. O pensamento qu...

Habitante

A porta está aberta, mas ninguém sai ou entra. A entrada jamais foi negada, aberta tida a olhos fechados, invisível, dissociável deste lugar, jamais fechada, sempre pronta no entanto ninguém a sabe cruzar. A porta está aberta, portão seguro, visível ao fundo, não confundível com nada, certo directo e seguro, portadas maiores não poderão existir. No entanto é porta oculta, presente aos olhares do mundo, que por puro infortúnio, meio mundo não sabe transgredir. A porta está aberta, para todos os efeitos, são olhos satisfeitos, que para ela olham, se a tem como certa, a porta segue aberta, só não cruzada por pernas, que não a sabem passar. A janela ficou fechada e nessas tristes arcadas, chora a chuva dos dias, primaveras e outonos, ondas sazonais tempos que passam por elas e elas permanecem inertes, sempre assim, sempre presentes. A porta está aberta, o seu significado é correcto, ninguém olha para ela de outra forma, não por desejo ou norma na verdade é perfeita e todos tem medo dela. ...

Dicotomia de Sonho

Acordar por acordar, nem sei se hei-de estar acordado. Nem por hora de penumbra, mal tida em hora de loucura, a hora passa, o sonho volve o sono não vem, a hora morre. Acordar, nem sei se acordei, de facto não faz a falta, revolto num canto, coberto para a vida, acordar, acordado, adormecido certamente. Faço jus a hora, não é realmente um desafio, permanecer assim acordado, nem distante nem presente, nem sabendo bem enfim… Acordar, dita maleita, preferiria continuar adormecido, por desenho de fisionomia molesta e economia funesta, vem o acordar o labutar benigno. Acordar para a loucura, deixar-se desperta nela, não fazer do movimento um novelo, desenhar o acordar, presa mão em silêncio, cruel se tem assim ao clamor. Acordar em vaga hora, sentido de nada por tudo, ora olhar para o vazio, sentir as sombras do escuro. Acordar não toma a medida, nem sei se acordado é um acordo mas na certeza do incerto, sempre longe, puro estropio. Acordar de meia maleita, sem seguro de vida, acordo adorm...

Um beijo e um adeus

Às palavras marcadas em benemérita expressão de entrelaçado pensamento, se nos deixamos tocar por elas, somos como sentimos, soldados soltos deixados ao vento… Damos a escolha, foi nos dada por alguém, é um poder infinito e estranho, usado com atenção demais para um ser, é o sentido desconexo, vexada altura e estúpido saber. Desconecto. Nem sei neste momento saber ligações, não me apraz, sentido de loucura, forma ou orientação, se assim no meio de tudo, silêncio é o sentido, deixo ao som do volume, hora e juízo. Saber passar é uma vitória e em vitórias vivemos memórias, sempre ligamos ao sujeito, o tempo parte, faz parte do nosso trejeito. Obrigação, talvez não a sinta, não sei se é por isso, preso ou não pela emoção, deixa as portas abertas, que se descarregue sobre o mundo, essa sóbria sensação. Sabes, não é por um momento que vivemos senão por aquele momento exacto, em que tudo se torna claro e desse momento passado tudo rui, tudo se desmorona e por estupidez de negligência, orienta...