Se escutares
Comprei-te um presente, para me esquecer de ti. Enterrei-o no meio do rio, para me afogar de ti. Caminhei pela terra, quando a terra se fez em mar, o mar em oceano e cada maré que se vazava levava-me a mim, cada vez mais longe de ti. Contemplei o vazio, enquanto o vazio olhou para mim, na abertura do céu, a lua se fez em si, senhora da noite, na dança da manhã, beijou o sol e trouxe o dia, só para se ver livre de si. Pelo quarto, que cheira a sândalo, o som vazio do seu caminhar, sem que as cortinas se mexam, o vento corre, pelas aragens calmas da manhã. Sente-se o tempo e ressente-se a história contada, mil vezes, mais que mil vezes traçada, pela calada vedada, sem que o contratempo me permita expressão, sempre dirigido a ti, sei que a face, é velada. Então, se ouvires baixinho, vais ouvir o rio passar, vais ver pela rua calejada a estrada que te leva aquele lugar, ao lugar onde nos encontramos e nos perdemos uma única vez, entre as passagens de um idioma, não sei a tradução para ti....