Hoje acordei desmedido, em sentimentos nulos, de pernas cruzadas, de bruços sobre a almofada, torto na cama, de cabeça para os pés da mesma, virado do avesso e estranhamente esticado e mesmo assim todo atado.
O lençol jazia por terra, não sei explicar, talvez por calor, o pijama encontrava-se suado, como detesto o Verão...
Sai, expreguicei-me, olhei para a cama, admirei a sua confusão, realmente nem interessa, deixei a estar, dirigi-me ao banho, meti-me debaixo do chuveiro, nem quis saber da temperatura da agua, deixei a mesma correr, sei apenas que o manipulo estava a meio.
Dirigi-me novamente ao quarto, encontra-se abafado, eternamente abafado, raios, como odeio o Verão, vesti-me sai com a família para almoçar, demasiadas pessoas a volta demasiado barulho a ser feito, quem me dera então saber, por que raio há sempre tanta gente neste lugar.
Retirei-me ao meu lugar de trabalho, mais pessoas a passar, sinto-me assim hoje, altamente anti-social.
Continuei por este local de trabalho, entre arranjar computadores e atender clientes, não tenho a minima vontade de os atender, não tenho a minima vontade de lhes falar, não tenho a minima vontade de estar aqui hoje e ainda assim sei que tenho que cá estar.
Debrucei-me sobre o teclado, soube que havia de sair alguma coisa, sai esta prosa estranha, este texto sem nexo e ainda assim acho-lhe o seu que de piada, não lhe acho o seu nexo mas acho-lhe o seu interesse.
Apercebi-me que hoje estou desligado, dai sentir-me assim, anti tudo.
As pessoas olham e simplesmente limitam-se a passar, a luz vai se apagando, que dia mais estranho para se passar.
As pessoas passam, ser-me-a punivel esta indiferença?
As pessoas passam, há pessoas que passam e me vem dizem olá e seguem indiferentes.
Se hoje me sinto indiferente, se hoje me acho estranho, se hoje estou aqui destoante e desligado, que coisa se desperta na minha mente?
Hoje sinto-me desligado, talvez assim seja melhor, não sentir realmente nada, que me ria exteriormente, hoje estou internamente e inteiramente cinzento.
Então as horas passam, passam as pessoas, de vários tamanhos, raças, feitios, aspectos e é tudo invariavelmente igual, essas coisas então confundem-se e ninguém parece ser senão uma copia deambulante de outra pessoa que passou já a sua frente.
Hoje nada reluz e isso é deveras impressionante de uma forma algo estranha e inconclusiva acabando então por não surtir qualquer impacto, trata-se assim de uma mini explosão de extrema indiferença... Impressionante!
Hoje os castelos de cartas não são derrubados pelo vento, hoje os castelos de pedra são feitos de cinzas,hoje as cinzas são dispersas e nada é como tudo e tudo se revolta por ser nada.
E é indiferente.
Hoje acordei, nem sei se me senti bem, falei com alguém ao telemóvel, nem quero saber para que, recordo-me que acordei ensonado, apeteceu-me mandar essa pessoa com quem falei para algum sitio funesto, contive-me e apeteceu-me dormir mais um bocado, estupidez sincera, que raio de pessoas se lembram de tais pensamentos, deixem-me dormir, o sol já nasceu e ninguém me deixa dormir.
Raios.
Desliguei-me, não sei quanto tempo me terei desligado, nem se talvez me tenha enganado, levando-me a pensar que me terei desligado, encontrando-me ainda completamente activo em completa consciência evitando apenas pensar no que se vai passando...
Deixo-me a mim próprio confuso, sei que evito pensar, sei que evito estabelecer um raciocínio completo pois não me interessa contemplar tal hipótese.
Desliguei-me e sinto algo nos olhos.
Já não tenho a certeza como estou.
Tenho no entanto a noção de me sentir cansado.
Talvez me tenha desligado.
Já perdi então a noção.
Já nem sei se interessa.
Boa tarde.
Venha o próximo cliente.
Passe a próxima pessoa.
Sinto-me inerte, um autómato de funções calculadas.
Boa tarde...
Venha a próxima situação, mais um sorriso exposto e forçado, mais um cliente meio desconfiado, mais uma situação exposta e bem explicada...
Boa tarde.
Deixem-me em paz, apetece-me dormir, não quero falar com ninguém.
Boa tarde e vão todos para o raio que vos parta.