quarta-feira, dezembro 28, 2011

Como corre a noite em sol(teiro) menor


Como procuro, em forma de desacato teu quente abraço e nele em perdido sorriso me quero afogar.
Não me confundam, não vejo uma hora de me retirar por ai, procurar um abraço anónimo e seguir em frente, por ai, com um sorriso estúpido na cara.
Não me interessa um amor concreto. Não o conheço. Não tenho quem mo de, não tenho a quem o dar e perdi até o interesse por amar.
E então vem uma cerveja para a mesa e vem uma torrente de álcool.
Vem uma figura encoberta apenas para me encher o copo e por fim sorrio sem nexo um sorriso solto e despegado sem desejo de retorno sem desejo de nada.
Olho-te bem fundo nos olhos e há simplesmente vulgaridade, sinto-me então vulgar e por hipocrisia continuo a sorrir.
Viro o copo e a bebida escorrega por entre as mentiras que me saem da boca e na verdade não és nada interessante.
Então olho a volta e desapareces na distância, nem a tua beleza prevalece.
Um amigo chega e fala, fala, fala, fala sem parar.
“Olá, tudo bem, adeus”.
Se me sinto privado de tudo, não tenho nem que te aturar, privo-me a mim mesmo em mim e ali me fico fechado, só um virar do copo e nem tenho que te aturar.
Viro o copo que se esta a esvaziar, por sorte alguém vem com mais bebida e de novo o copo se revirar de alegria, o vazio desaparece e nada está quase cheio mas sim verdadeiramente cheio.
Trocam-se histórias antigas, ri-se a bandeira solta, recordam-se então situações caricatas, pessoas partidas, partidas prematuras, pessoas ausentes e sente-se um aperto na alma.
Vira-se o copo.
Observa-se quem passa, tecem-se comentários, pede-se mais bebida a noite não pode ficar seca e as pessoas não permitem o desânimo, chegam mais amigos, vão se embora outros, pedem-se mais copos e as palavras dançam os sons confundem-se e a hora vira mais adulta.
Voam uns olhares lascivos pelo ar e eu reviro o copo, não me interessa de momento quem os troca, não é assunto meu, não existe lugar para mim nessa troca, não existe que os troque comigo.
Passas pela zona, sentas-te connosco, vieste de visita, estas com uns amigos, não disseste que estavas por cá, olhas para mim e sinceramente faço cara de desinteresse, viro o copo, perdes-te.
Convido-te a sentar, dou-te um copo e agora que penso nisso, deixo-te alienada, viro-me, não me interessa.
Viro-me para outra, faço conversa com outra, entretenho-me com outra.
Sorris e é um sorriso sincero, sorrio-te de volta.
Ficas fula comigo e nem me interessa.
Viro o copo e o liquido é mais interessante.

domingo, novembro 20, 2011

Pedra


Há pedras que nascem pesadas
Com a vontade de rebolar
Meu coração nasceu pesado
E sem pedras para o pesar.

Sei em meu peito alma viva
Meu sonhar há-de quebrar
Em vista de um sorriso vazio
A estes olhos, o pranto.

Não me resta um espanto de dor
Não sei se um caminho me segue
E enquanto espero um temor
Treme o peito, parte a alma.

Tu, que me fazes passar por parvo
Que te consuma um raio
Que te quebre um salto
Que chores, não me importo.

E se olhares neste peito que foi teu
Lá acharas o teu pranto.

Não recolhas a teu canto.
Pois é um vazio de desencanto.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Perfeita loucura, cruzar-me contigo

Um dia de trabalho, por um sorriso mal usado, mal me mexo de este meu centro de loucura e tudo parece tão ousado.
Contar a verdade é um ciclo estranho passado por presente e abandonado a todo o esplendor perdido, ninguém aceita o dito e tudo o verdadeiro é odiado.
Sorri para mim.
Sempre que vejo o teu rosto o meu corpo treme, sempre que vejo o teu rosto, todo eu caio por terra, sem sentido, sem denúncia, sem vontade do que quer que seja e por mais, por mais que eu possa em qualquer querer dizer, só quero mesmo é estar contigo e abraçar-te. Mal abro os olhos novamente já te esfumas-te…
Fugaz.
E então sei que nada é o que eu quero, espero, almejo ou desejo.
Olho para o nada e o vazio é uma constante, nem pelo que vai diante de mim, mas por tudo o que me parece rodear…
Não me recolho à mim mesmo mas sinto-me algo enojado.
Contorno-me e recolho a informação, olho outra vez para aquele sítio onde estiveste comigo e só me sinto.
E por ambígua decisão do destino, estamos sempre, pé ante pé, olhar por olhar, sentido contra sentido, sempre, frente à frente.
E como almejo…
Se soubesses, por um momento, como arde este peito, como lateja esta mente, como a alma se perde só por ti, só por pensar em ti e sem ti aqui se deixa insana e mundana.
Perdido.
Perfeitamente irracional e no estranho completamente são, louco por natureza, verdadeiro por tudo e sinceramente não sei como há-de ser o mundo e por verdade se vende meio incauto e sem malícia, se perde um inocente a necessidade alheia.
Corre o sangue ri-se a menina, sorri nos braços de alguém e alguém permanece na ignorância, sofre por nada quem não sabe, sofre por tudo que conhece e ambiciona a ignorância quem nunca se fez se não humano.
Truão, saltimbanco…
Acordo em física dor, passo o dia em vida morta, não espero um abraço mas conto com um empurrão que me aproxime da campa e as facas nas costas são demasiadas para contar algumas por culpa deste soberano e outra por quem se sente sempre no cimo do pau de cânhamo.
Estupidificar.
Estupidificado.
Vazio.
Rodeado e não ausente.
Mas que coisa tão incongruente…
Perfeitamente anormal, perfeitamente insano…
Cruzar-me assim, contigo…

terça-feira, julho 05, 2011

A mesa e ao tempo perdido, palavra curta

Penso por um momento em sossegado retiro sereno, se a terra apraz este sentimento ou se me recolho apenas ao resguardo de meu pesar e com o peso do mundo desenhado ao meu desdém, escondo este meu rosto soturno.
E sorrir?
Não sei por quem.
Desenho a mão solta um circulo perfeito de meu ser, oculto em mim por medo, disputo este negar do meu saber.
Agarro a mão que me arrasta desmedido em meu temer, abraço o meu medo já que nem sei o que é vencer.
Declaro-me em derrota, absoluto dono, por dever e em imaginação nada me fique devido.
Hei-de o cobrar, tal é o uso deste escravo, tal é a ilusão de permanecer.
Desenhei a mão solta um circulo e esse circulo em espiral perfeita se há-de volver.
Abraço o nada, esqueci o medo.
Para que me perder, se estou já perdido?

terça-feira, junho 28, 2011

Eterna

Não sei se vivo cada noite que fico horas deitado na cama enquanto não durmo...
Parece que estou preso no ar, simplesmente a flutuar, quase que estático...
Tento virar-me, mas não é preciso. Observo o mundo que gira simplesmente a tua volta...
Nunca vi a tua cara, nunca ouvi a tua voz, conheço apenas as tuas palavras, que me agradam e me deixam perplexo...
Quem me dera poder ver-te, falar contigo, partir fronteiras...
Ainda assim estou estático...
Dizes que es feia, não creio que assim seja, pois se tu fosses feia eu teria que me encerar numa caverna, bloquear a entrada para ninguém assustar...
Para mim és demasiado complexa, não sei como te tratar...
Invades-me com algo que parecia não recordar ou apenas preferia não o fazer...
Sei sinceramente que me preferes ignorar...
Ou então simplesmente que me deves odiar...
Pareces serena, simplesmente sentada a janela a olhar para a lua...
Não se ouve um único ruído, nem o leve sussurro do vento que faz esvoaçar suavemente o teu cabelo...
Quase pronto a cair num abismo, avisto por fim o teu rosto...
Perco-me nos teus olhos, delicio-me com a tua face...
Sei que me espera mais uma noite de insónia, levanto-me e vagueio pela casa...
Dirijo-me a varanda, esta uma noite fria, talvez a mais fria de sempre, penso em ti, em como me apetecia falar-te agora...
Aproximo-me do parapeito nada me da vontade de permanecer aqui, só a tua recordação...
Então sento-me no chão frio e sujo da varanda, fico a ver o sol que suavemente se levanta e anuncia mais um dia, mais uma noite sem dormir...
Não sei o que fazer, sei apenas que me apetecia ver-te...

(Data de 19 de Janeiro de 2003)

segunda-feira, junho 13, 2011

Sophia

Para que olham estes bonitos olhos vazios, perdidos por mil desventuras?
Para que se revezam estas perguntas soltas, se tudo o que pergunto sei já responder?
Para que se procura a esperança no escuro, se tudo foi deitado já em claridade?
Para que me dedico a algo, se tudo acaba por ruir?

Porque deveria sorrir?
Porque deveria chorar?
Porque deveria revelar?
Porque havia de sentir?

Quem haveria de saber então?
Quem poderia acreditar?
Quem saberia responder?
Quem se haverá de importar?

Se conseguir achar um motivo, deverei tentar?
Se conseguir saber algo novo, deverei esperar?
Se conseguir agarrar um sentido, deverei segurar?

Cresço em todo o meu sentido.
Cresço em toda a minha consciência.
Cresço em mim, sozinho.

E de tanto crescer, mais estúpido me sinto ficar.

segunda-feira, abril 25, 2011

Corro, fujo, desapareço

Percorro sem saber, a sombra do passado, evitado por nada, nem desconhecido de mim, facto aceite e verdade simplificada.
Não sei ainda para vou mas para algum lado me devo dirigir, mesmo sem sair do meu sitio, vou e quem sabe para onde realmente?
E então fecho os meus olhos.
E que mais?
Abro-os e olho, não sei se o que vejo é realmente o que deve ser mas para este momento serve.
A luz é boa, o ar é fresco, o mundo divide-se entre a escuridão e cor.
Sozinho por um momento, a meias com o mundo, apenas contigo, quieto, em movimento, tremido e temido, sem dúvida fora de um nexo comum e recaio nesta ideia, de facto o que é comum? De facto, o que é normal?
É um conceito de rir.
Corro.
Não por motivo algum, não gosto de todo de correr, não é a minha cena, não é a minha especialidade, não é o meu movimento.
O mundo persegue-me, alcança-me e envolve-se novamente em todo o meu sentido, em todo o meu ser e em tudo o que sou.
Ridículo, como me deixo tão facilmente apanhar.
Patético, como me deixo tão facilmente cair.
Levanto-me!
Faço de esforço força, de meio desconhecido razão insana!
Fujo!
Corro como se o diabo viesse no meu encalce!
Vivo por fora de mim, corro, corro, corro!
Desapareço e ninguém me vê.
Paro para um momento, olho para trás e vejo, caio em mim estupefacto e rio-me…
De que fujo então?
Corro, fujo, desapareço, de mim mesmo, que ironia!
Que estúpida ironia!

sábado, março 26, 2011

Há, sem haver.

Não posso escrever, sinto a caneta pesada, fora de mim mesmo me sinto e sem rumo fixo me conheço, não me conheço em mim próprio não conheço sensação de mim, sinto-me puxar pelo meu interior, forçadamente e estupidamente com sensação de arrancar as minhas tripas, desconheço-me neste sentido e por não poder escrever, não por não querer mas por não ter para quem escrever, escrevo a pena solta a fogo posto a bandeira despregada de sentimentos e sentidos negados aponto-me a mim como culpado por sentir sem existir talvez por sentidos ou coisa alguma em altura sempre suspeita, senhor de nada e por tudo dito não posso escrever, não sei então porque escrevo!
Não posso escrever, escrever é quase um dever, um escape de mim para nem sei e neste momento nem sei para quem escrevo e ainda assim atinjo esse objectivo? Escrevo assim despregado e doem-me as mãos, os braços, o estômago e a cabeça não escrevo por mim, não sei porque escrevo e se escrevo de todo ou bato com força no teclado, carrego com toda a força na caneta, desenho as letras de este texto quase a rasgar o papel cravo como tatuagem estas letras na terra e não escrevo por nada, não escrevo por ninguém escrevo por ira, euforia, loucura!
Não posso escrever… Não existe movimento de fluxo, não existe movimento perfeito… Existe em contrariedade de movimento do meu sentimento perda de razão, grito, grito, grito e agarro-me então as palavras que vomito em agonia e assim, nem sei porque escrevo não é em mim, não é por mim, não nesta pessoa que desconheço, convenço-me então que a mentira foi negada, coisa alguma conheço, merda, merda, merda e mais merda!
Não posso escrever, grito do meu interior e rio a bandeira deslavada, loucura perdida o meu objectivo nem cumprido é não há rumo, não há maré, há perda? Nem isso sei, porra! Que não existe nenhum motivo, não existe qualquer razão, sem sentido aparente e então… Restaria rogar a uma entidade superior, chamemos-lhe Deus mas Nietzsche disse “Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser céptico.”, então nem terei um Deus para acreditar porque neste momento nem me acho com fé, nem me acho de todo!
Não posso escrever, não que não o queira, não que não o mereça, não que não saiba como o fazer, não que não o necessite, não que não seja algo que me pareça natural, simplesmente não me é merecido não a mim, não a pessoa que sou agora, não a pessoa que pareço ser, não é desta pessoa, não tem destino, quem é de facto esta pessoa? Quem?!
Não posso escrever.
Esta escrita não me pertence.

quinta-feira, março 17, 2011

Onde, por onde? Por nada…

Retira-me do meu lugar, meu futuro passado escondido e diz-me por força como me hei-de encontrar, escondido em sossego, oculto a vista do mundo, meu lugar sereno e simplesmente longe do teu olhar.
Orienta-me. Afoguei-me nesta sangria, escoei-me de vinho e comi fruta envenenada tão só por opção negada, deixei-me beber e fui bebendo.
Ao ocultar a opção não escolhi a resposta acertada, fui enchendo esse e esvaziando a vida, nem sei se por escolha ou decisão informada…
Esqueci-me de ser feliz, não creio recordar tal desígnio, talvez opção velada por força de normas.
Obriguei-me a negar por vida perdida, dediquei-me a expirar…
Ensina-me algo, dá-me um sopro de vida.
Em veneno puro resido, o meu ar é pó e não conheço sol.
Acorda-me! Nem me sei a dormir, por força necessária de um sopro de existência, rogo um beijo teu! Dá-me vida…
Ou nega-me.
Deixa-me solto por ai, ignorado por ti, esquecido e perdido de ti…
E então sofro.
E então choro.
E então torturo-me.
Desligo-me por força de ser, desligo-me do mundo, pego e fujo.
Ninguém me há-de ver.
E esqueço-me por um momento, perco-me perdido em mim.
Esqueço-te mas permaneces tatuada em mim.
Ensina-me a viver mas nem existes.
Ensina-me a ser feliz mas nem respiras…
Não me conheço. Nem nunca te conheci…

sexta-feira, março 11, 2011

Inocente

 Indescritível melhoria, sorrio, ao ver esse dia!
Sorrio, sorrio, sorrio…

Ao beijar os teus lábios, sentida alegria!
Sorrio, sorrio, sorrio!

Teus lábios, qual rubis, perdição de meus dias!
Sorrio, sorrio, sorrio.

Passo a mão, pelo teu cabelo e perco-me nele.
Sorrio, sorrio, sorrio…

Pouso o outro braço, a volta da tua cintura…
Sorrio, sorrio, sorrio.

Puxo-te, aproximo-te de mim…
Sorrio, sorrio, sorrio…

Como-me sinto então, em pleno estado de euforia!
Sorrio, sorrio, sorrio!

E então acordo!
Tristeza, solidão, desespero…

Penso então em ti, lembro-me de este sonho…
Então sorrio, sorrio, sorrio…

domingo, fevereiro 27, 2011

Canto, recanto e perda de sentidos

A noite passa suave, longe das estrelas do teu olhar…
Turbulento é o momento, em que por cruel ventura me apercebo da tua ausência e caio em mim…
Longe do meu olhar, encontras-te tu… E eu tremulo na noite…
Por ventura de um bom sonho, seguro a tua mão e tenho-te nos meus braços.
O mundo para e tudo é perfeito por um momento…
Nada mais preciso desse sonho, nada mais inspira o meu alento.
Acordo, permaneces como uma visão divina, meu anjo minha deusa.
Encosto-me a parede, deixo-me dormir no teu trejeito, não espero muito, não sei se esperar, caio de novo no meu sonho e lá estas tu, senhora deste peito.
Recupero então por completo de esta loucura, procuro a calma da minha alma e abraço-te novamente.
Não espero mais e novamente, como num movimento de um segundo, o tempo parece voar e eu, com toda a força que possa conjurar, trato de o tentar parar, trato de o arrebatar, de o parar, de o travar, de o atrasar…
A noite passa, olho-te nos olhos, vejo os teus lábios de rubi, pondero ou não um furto, será que me iria escapar?
Toco-te na cara, sorris, encostas-te a minha mão e eu congelo.
Procuro na minha mente, pesquiso na minha alma, indago ao meu coração, busco uma intervenção superior mas tudo me ultrapassa, nesse momento, nem sei que dizer, vejo te apenas a ti, sinto-te mesmo ali, minha divina aparição, minha mais que constante presença…
Atónito, incrédulo, simplesmente abismado…
Chega uma hora, não sei que hora, não sei que momento mas é de partida e partes sem mim…
No que toca neste peito onde moras, partes e espero o teu retorno, quieto nesse momento, nesse sítio, nessa hora, nesse movimento imperfeito, nesse beijo no rosto nessa mais que estranha perdida de sentidos, nesse meu apertar de peito…
Fico com palavras na língua, fico com ditos na garganta, falham-me as pernas, tremo como varas verdes, não consigo falar e só te vejo afastar…
Tremo, caio por terra.
A noite passa e vejo o sol raiar, a luz ilumina o mundo e neste meu mundo ainda que haja luz, tudo se tinge em tons monocromáticos sem a tua luz, sem as tuas cores, sem todo o teu ser.
Deposito-me perdido, não me sei explicar…
Devo-te um beijo.
Devo-te um abraço.
Deixa-me dizer-te o que não queres ouvir mas que conheces já de cor.
Se o movimento perfeito te permitir voltar a mim… Deixa que te mostre…
Até lá, espero o sonho…
Até lá, espero repousar.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Eu por mim, silêncio, profundo em mim

Sem peso, vagueio, envolto em mim…
Não em nada mas numa jaula em que as grades foram feitas por mim…

Durmo um sono leve, ancorado a um sonho profundo.

Inspiro o ar nocturno, perdido e desnorteado, Senhor absoluto de nada, Lorde de tristeza profunda, Soberano de um império azul nocturno, enfim…

Abro um olho.
O mundo flutua ou parece-me a mim…

Abro o outro.
O mundo desaparece ou desagrada-me assim, vazio, sem…

Fecho ambos e escondo-me em mim…
Abraço-me a mim próprio, a mim…

Os meus olhos choram, eu grito sem fim, irado, perdido, fora de mim…

Endireito-me e olho para mim.
Detenho-me no ar.

E como um sonho passado, desapareço no ar.
Tu olhas nesta direcção, para o interior da minha jaula…

Procuras-me a mim?

sábado, fevereiro 12, 2011

Estúpido. Inútil.

Escondo-me nas maquinações ardilosas do meu ser, perdido entre ruas que desconheço, guiado pela luz do mais próximo poste...
Sombrio, perante aquilo que se aproxima, apresento um sorriso, rio de riso a riso, perco-me por entre a tua multidão e abraço o espaço inexistente da tua existência, insisto em que nada é tudo e roo-me de nada e tudo se enrola no sentido infinito do sentimento mal expresso.
Beijo o ar que leva o teu perfume, beijo o teu ser, beijo o teu mundo, beijo nada e absolutamente tudo...
Recolho a solidão do meu sorriso, aspiro então ao ínfimo de pensar, condeno-me por existir diante de mim mesmo, júri, juiz e executor, não sou mais que eu mesmo, perdido e pedido em mim, como hei-de aceitar a culpa, se nem me reconheço...?
Aspiro o teu sorriso, maior que qualquer opiáceo, se me permitir sentir bem, que me seja permitido sonhar, já me sinto perdido de tanto esperar,  quero então sentir-me sem existir e existir sem me sentir...
Recuo perdido em mim, subo de forma descendente, decadente, perdido por tudo, destino, qualquer lugar que não aqui, fujo e escondo-me do caminho, que nunca ninguém me reconheça, que me perca por esse caminho e caio, caio e volto a cair...
Do que é que estou, do que é que estamos realmente a fugir?=
Longe de ti, por um momento, perto de ti por um instante, distante de ti por um infinito de distancia, reencontrado com o centro de nada, conexo e distante de tudo, recolhido e recôndito, perdido...
Longe de ti e de tudo o que te faz ser tu...
Sou uma existência assim, nula de mim mesmo, pobre de mim, coitado e abandonado...
Estúpido. Inútil.

domingo, janeiro 23, 2011

Asas quebradas, braços vazios

Limpa as lágrimas deste rosto, qual veneno consomem-me a alma…
Pudesse, teria as tuas mãos no meu rosto, ainda que me queimasses toda a carne, preferiria arder por ti e contigo…
Recuso-me de mim, se de mim nem sei nem conheço, nem faço a mais pequena, ínfima ideia de como sou ou quem realmente sou.
Reclamo pelo teu toque, reclamo pelo teu olhar e por entre essas horas de sonhar, chorar poderia ser uma hipótese.
Não, tentarei não o fazer.
Se chorar, como poderei reclamar que não o faças tu quando te dói?
Calo-me pela noite e entre a amizade dos tempos, vou empinando a garrafa, o liquido flui e o tempo vai deixando marcas profundas em campos lavrados de recordações, más, boas e algumas vezes, ao que parece, épicas.
Em silêncio, escondo-me na minha concha, beijo uma recordação de ti.
Vou olhando para a porta do nada, sempre a espera de te ver entrar, à espera de um sinal de ti, o tempo passa e o teu gesto permanece como um suave mas distinto aroma no ar…
Abano todo, por dentro sinto-me ruir, por fora permaneço uma estátua desprovida de feições ou aparentes sentimentos, interiormente… Sou apenas uma fagulha no vento, sem sentido para tombar…
Procuro adormecer…
Questiono à loucura, seria demasiado querer o teu abraço?
Sinto-me e desejo-me a dormir, mas esse sono que não vem, revolvo-me nos meus lençóis, procuro por ti e espero esse abraço…
Deixo-me dormir e vêem esses sonhos estranhos, nada é o seu reflexo negativo e nada é um ponto de tudo e tudo se desfaz reconstruindo-se em vazio.
Flutuo então no vazio de mim mesmo, desejo o que não posso alcançar por mais que corra, será então o meu desejo desmedido? Maior que eu mesmo…?
Acordo.
Deixo-me dormir novamente, sinto-me ofegante com cada sonho, adormeço, acordo, adormeço, acordo…
Passo então essa noite mal dormida, desejo nem me levantar, nem me apetece, nem quero sair lá para fora, não quero de todo saber do mundo…
Arranco uma almofada e abraço-a, tento novamente dormir…
Que poderia fazer para te ter aqui, mais perto de mim do que neste meu peito ou nesta minha mente…?
Deito amarras ao mundo dos meus sonhos e apareces numa figura difusa, aproximo-me de ti e esfumas-te com o vento…
Deixo-me a sonhar, sentado numa falésia debruçada sobre o abismo do oceano…
O sol há-de se por…
E tu, será que poderei ter-te nestes cansados braços…?
Durmo, sonho, espero por ti…

sábado, janeiro 15, 2011

Uma luz, um caminho, um sentido, uma direcção


Diz-me como deixo de sentir, de pensar, de me sentir como merda, como me desligo de este mundo, como posso apagar todas estas coisas que me vão na cabeça, como me liberto de um sentido descendente em que todas as coisas não fazem sentido e em que tudo apenas aparece no meu caminho com o intuito de me magoar.
Diz-me, ilumina-me com um pouco de essa luz, guia-me, dá um sentido a este caminho perdido, porque se piso mais uma pedra, parece que piso uma mina, o meu caminho desfaz-se eu, eu acabo por cair novamente.
A música toca e esta música recorda-me de ti, uma e outra vez, uma e outra vez, ao toque de um tom infinito de loucura perco-me.
Indica-me um rumo, já me sinto a marear, se me perder novamente, já nem sei se me desejo encontrar, deixa-me perdido, se nem para ti me sirvo, como me hei-de servir para o restante mundo?
Então…
Dá me uma resposta.
Apetece-me arrancar esta pele, arranjar um disfarce para o mundo, que ninguém me conheça, estou farto de isto, nem sei que dizer…
Calo-me e grito…
Grito e ninguém me ouve.
Olho a volta e tudo parece tão cinzento e só.
Reescrevo.
E conto novamente.
Sinto-me triste e só.
Bela merda.