terça-feira, setembro 25, 2018

Se escutares

Comprei-te um presente, para me esquecer de ti.
Enterrei-o no meio do rio, para me afogar de ti.
Caminhei pela terra, quando a terra se fez em mar, o mar em oceano e cada maré que se vazava levava-me a mim, cada vez mais longe de ti.
Contemplei o vazio, enquanto o vazio olhou para mim, na abertura do céu, a lua se fez em si, senhora da noite, na dança da manhã, beijou o sol e trouxe o dia, só para se ver livre de si.
Pelo quarto, que cheira a sândalo, o som vazio do seu caminhar, sem que as cortinas se mexam, o vento corre, pelas aragens calmas da manhã.
Sente-se o tempo e ressente-se a história contada, mil vezes, mais que mil vezes traçada, pela calada vedada, sem que o contratempo me permita expressão, sempre dirigido a ti, sei que a face, é velada.
Então, se ouvires baixinho, vais ouvir o rio passar, vais ver pela rua calejada a estrada que te leva aquele lugar, ao lugar onde nos encontramos e nos perdemos uma única vez, entre as passagens de um idioma, não sei a tradução para ti.
Mas pelo menos, pela perda de ser entre os adjacentes que já caem, as vizinhanças que minguam, já que de mim deve partir o silencio estrondoso, sempre a raiar e a vaiar, tonante solto, pelas montanhas e pelos montes.
Mói-se em mim a inconsistência, conheço o facto de não conhecer, se amar o que se ama, nem sei como é o meio, se é que existe de facto uma maneira de o descrever.
Sabe-me o medo de perder, essa tremenda horrorosa sensação de me esvair, não quero, não quero sequer pensar.
Comprei-te mais uma vez um presente, não gastei um único cêntimo nele, está escondido por aí, sem que o possas ver, já o negaste, perdes-te esse nexo, sabes que te foi dado, esse presente, tem-lo contigo.
Acho que já não há essa necessidade, nem vejo o seu reflexo.
Simplesmente vou descrevendo essa passagem, já é abstracto e sem um olhar duvidoso, a sombra que me cobre o ar, se escutares, és tu a passar, ao longe, sempre a velar.
Como sempre, comprei-te um presente.
Como sempre, ficou no nosso lugar.
Como sempre, deixei-te tudo indicado.
Como sempre, falhou-te procurar.

segunda-feira, setembro 10, 2018

Furtuito

Como me sinto, fora de mim?
Não sei.
Olha para o passado, como velho o meu tempo, passar de si, em mim, como olho para tudo, o velho passado de mim, sem que a verdade, seja posta no momento que me passa.
Sinto que se por um momento, me delongo na escrita, caio para a minha realidade, um momento em quem e escondo da minha realidade, em que vou calejando um futuro incerto, em que concedo, sem condenar a minha verdade, em que sinto que pedir, a minha irrealidade.
Então.
No recosto do meu sentimento, como escondo o meu lamentar, se a ti te vejo sem mim, não reconheço o meu esgar, perdido a um canto de irrealidade, não sei…
Creio que acreditei no nosso credo, sempre, sem saber a quem almejar, creio que me perdi.
Correspondo.
Sei que sempre correspondi.
Sei que te beijei e me deixas-te.
Fortuito é este sentimento que me assola.
Creio na estupidez que me consola, pela vertente que me deixa solitário, vou vendo um passo pelo passado, como te olho, tão longe de mim, sem que a vertente de nada que me possa guiar…
Já não sei se me ouves, pela distância que nos separa.
Creio que seja o dessolar de uma vida….
Foi por um beijo.
Foi por uma noite.
Foi pelo perdido.
Foi pela estupidez.
Foi por tudo o que concebemos.
Foi, não foi.
Creio que é uma respostas que só a ti te toca.
Aposto na insanidade de mim.
Oposto de uma lágrima de ti.
Não o meço.
Não sei.