terça-feira, junho 28, 2011

Eterna

Não sei se vivo cada noite que fico horas deitado na cama enquanto não durmo...
Parece que estou preso no ar, simplesmente a flutuar, quase que estático...
Tento virar-me, mas não é preciso. Observo o mundo que gira simplesmente a tua volta...
Nunca vi a tua cara, nunca ouvi a tua voz, conheço apenas as tuas palavras, que me agradam e me deixam perplexo...
Quem me dera poder ver-te, falar contigo, partir fronteiras...
Ainda assim estou estático...
Dizes que es feia, não creio que assim seja, pois se tu fosses feia eu teria que me encerar numa caverna, bloquear a entrada para ninguém assustar...
Para mim és demasiado complexa, não sei como te tratar...
Invades-me com algo que parecia não recordar ou apenas preferia não o fazer...
Sei sinceramente que me preferes ignorar...
Ou então simplesmente que me deves odiar...
Pareces serena, simplesmente sentada a janela a olhar para a lua...
Não se ouve um único ruído, nem o leve sussurro do vento que faz esvoaçar suavemente o teu cabelo...
Quase pronto a cair num abismo, avisto por fim o teu rosto...
Perco-me nos teus olhos, delicio-me com a tua face...
Sei que me espera mais uma noite de insónia, levanto-me e vagueio pela casa...
Dirijo-me a varanda, esta uma noite fria, talvez a mais fria de sempre, penso em ti, em como me apetecia falar-te agora...
Aproximo-me do parapeito nada me da vontade de permanecer aqui, só a tua recordação...
Então sento-me no chão frio e sujo da varanda, fico a ver o sol que suavemente se levanta e anuncia mais um dia, mais uma noite sem dormir...
Não sei o que fazer, sei apenas que me apetecia ver-te...

(Data de 19 de Janeiro de 2003)

segunda-feira, junho 13, 2011

Sophia

Para que olham estes bonitos olhos vazios, perdidos por mil desventuras?
Para que se revezam estas perguntas soltas, se tudo o que pergunto sei já responder?
Para que se procura a esperança no escuro, se tudo foi deitado já em claridade?
Para que me dedico a algo, se tudo acaba por ruir?

Porque deveria sorrir?
Porque deveria chorar?
Porque deveria revelar?
Porque havia de sentir?

Quem haveria de saber então?
Quem poderia acreditar?
Quem saberia responder?
Quem se haverá de importar?

Se conseguir achar um motivo, deverei tentar?
Se conseguir saber algo novo, deverei esperar?
Se conseguir agarrar um sentido, deverei segurar?

Cresço em todo o meu sentido.
Cresço em toda a minha consciência.
Cresço em mim, sozinho.

E de tanto crescer, mais estúpido me sinto ficar.