Não sei se vivo cada noite que fico horas deitado na cama enquanto não durmo...
Parece que estou preso no ar, simplesmente a flutuar, quase que estático...
Tento virar-me, mas não é preciso. Observo o mundo que gira simplesmente a tua volta...
Nunca vi a tua cara, nunca ouvi a tua voz, conheço apenas as tuas palavras, que me agradam e me deixam perplexo...
Quem me dera poder ver-te, falar contigo, partir fronteiras...
Ainda assim estou estático...
Dizes que es feia, não creio que assim seja, pois se tu fosses feia eu teria que me encerar numa caverna, bloquear a entrada para ninguém assustar...
Para mim és demasiado complexa, não sei como te tratar...
Invades-me com algo que parecia não recordar ou apenas preferia não o fazer...
Sei sinceramente que me preferes ignorar...
Ou então simplesmente que me deves odiar...
Pareces serena, simplesmente sentada a janela a olhar para a lua...
Não se ouve um único ruído, nem o leve sussurro do vento que faz esvoaçar suavemente o teu cabelo...
Quase pronto a cair num abismo, avisto por fim o teu rosto...
Perco-me nos teus olhos, delicio-me com a tua face...
Sei que me espera mais uma noite de insónia, levanto-me e vagueio pela casa...
Dirijo-me a varanda, esta uma noite fria, talvez a mais fria de sempre, penso em ti, em como me apetecia falar-te agora...
Aproximo-me do parapeito nada me da vontade de permanecer aqui, só a tua recordação...
Então sento-me no chão frio e sujo da varanda, fico a ver o sol que suavemente se levanta e anuncia mais um dia, mais uma noite sem dormir...
Não sei o que fazer, sei apenas que me apetecia ver-te...
(Data de 19 de Janeiro de 2003)