sábado, outubro 28, 2017

Passo, fuga e volta

Senta em silêncio, pela verdadeira palavra que há-de sair.
Sentada, de braços cruzada, altiva, assim se pode considerar.
Espera por um movimento, uma coligação sem nexo que possa seguir, no seu rastro, como um rastilho ardido, jazem aqueles que se atreveram e só se queimaram.
Então arde, como deve arder, como sempre ardeu, sempre de seu fogo dona, sem se espalhar por mais que um momento, dentro de si traz esse sentimento, de se por em altura de torre altiva.
Recolhe a luz e olha para o seu passado, contempla a decisão tomada, sem calcular mais que necessário, um certo e tomado passado, sempre em frente, essa é a ordem de progresso.
Descruza as pernas, brinca um pouco, aproxima-se, com movimentos suaves em nada forçados, sempre com um ar sereno na face, com cada movimento feito, assim seduz.
Solta o cabelo, corre os dedos e solta-se toda ela, nem o faz por mal, não existe qualquer sensação disso, simplesmente é aquele olhar e aquele movimento, aquela expressão de se querer soltar toda ela.
E conforme se mexe, tudo o que existe caí e fica sereno.
Se há fogo, nela tudo arde, nem sei como o descrever.
Quisera eu saber, falar de livre garganta, tudo o que quisera dizer, sem que o que diga possa passar por entre as velhas leituras daquilo que possa ser expresso.
Queria eu saber, como muda o mundo, de um lado, sempre passado, para um presente algo futuro, sem que o plano passe de si mesmo, alterado sem expressa informação.
Quero eu falar.
Quero eu dizer que de tudo o que possa ser feito, que se possa mover, sem remoer pelos intermédios, sem mais palavras que possa eu dizer.
Sem dúvida que me sabe um pouco a fogo.
Sem dúvida que sabe o sentimento que envolve.
Pena de mim, não tenho fogo.
Pena de mim, não tenho intento.
Pena de mim, aspiro ao vazio.
Parte de mim, quer então falar e dizer, que saber e ser, quer revelar e confessar.
Parte apenas à fuga.
Que mais se sabe fazer?

domingo, outubro 22, 2017

Meia dúzia de palavras e uma procura

Vem pela noite dentro e procura-me pela madrugada, aconchegado ao teu corpo, perto do teu desassossego e de toda a tua máscara.
Procura, pelo significado da tua máscara, de uma proximidade que possas ter, em silêncio, olha para ontem, tenta a minha explicação ou espera por ela, se me for permitido, dentro do abstracto, poder falar e entender a dois, o que nos vai na velada.
Aproximo-me, da mesma maneira que me afastas, sem complexo de senhoria, apenas uma necessidade que bem compreendo de permanecer una em ti.
Abro a janela e voo, não conheço então um trejeito ou uma maneira, se ficar, devo ficar, se partir, parece ser errado e como fiz, filo dentro de mim, com certa incerteza e com complexo desnorte, sem ter certa certeza, sem ter pé ante mão com absoluta perda de sentido e sem saber sequer em que pé me apoiar.
Não tomo por mão, estrutura ou o conhecimento, não sei erguer, nem erigir, tomo apenas por parte, o certo desconcerto de viver, como sempre vivo, experiência nova mas não querer despedir.
Dispo-me.
Deixo as coisas a nu, não quero sequer pensar em mais nada, que sejam livres os sentimentos assim como os sentidos, se vamos passar por pôr a limpo, que haja então um pouco de mim nisto, assim como um pouco de ti.
Sinceramente mais que um pouco um tudo e nem sei bem como explicar. 
Abraço então o conceito que ilude, não expressando na verdade o que desejava expressar, sem saber falar, fugir parece uma opção viável, sem sequer saber o porque de fugir, sem espaço para oratória que parece ter sido deixada, em detrimento de avulsão, de revolta e de separação.
Se por mim, não quero a separação, nem quero um afastamento, não quero esse extremo de nada.
Parece ainda que não me compete a mim.
Voa então da minha mão a oportunidade de expressão, caio por terra, sem que seja por mim, mais que tudo sem que seja por ordem ou expressão de outrem…
Revelo ao vento e fica presa essa sentida debilidade, sinceramente mais que saudade…
Calo-me, a noite vela larga, sem que seja mais um sentido, são então largas as horas que me esperam.
Quando for tempo, será tempo de enunciar…
Quero esse tempo, quero sem dúvida esse luar, quero sem dúvida esse lugar.